Numa entrevista alargada à Euronews, o presidente sérvio Vučić aprovou a venda de munições aos países da UE, mesmo que estas acabem na Ucrânia. Defendeu também a decisão de não aderir às sanções da UE contra a Rússia, o que complica a candidatura da Sérvia a membro da UE.
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vučić, confirmou que o país está disposto a vender munições à UE, mesmo que estas acabem por ser entregues às forças ucranianas na sua luta contra a Rússia.
"Precisamos de as vender a alguém e vendê-las-emos a quem pudermos para ganhar algum dinheiro, mas iremos tentar ter cuidado para que as munições não acabem por ir parar a uma zona de guerra. Mas isso é algo que acontece de vez em quando", disse Vučić no programa de entrevistas mais emblemático do The Europe Conversation, da Euronews.
"No final [das contas], temos de pagar aos trabalhadores", acrescentou.
"Diga-me, disse algo irracional?" perguntou Vučić.
De acordo com Vučić, a Sérvia produz até 160 mil munições de diferentes tipos e calibres, um número "igual ou um pouco maior ao da França", trabalho que é feito por 30 mil trabalhadores que estão "dependentes da nossa capacidade de vender estas munições".
Vučić parece estar a mudar de atitude em relação à política de venda de armas da Sérvia.
Em junho passado, o país suspendeu as exportações de munições após pressão por parte de Moscovo, que se ressentiu do facto de alguns cartuchos terem sido utilizados na guerra contra a Ucrânia.
Vučić reiterou o seu apoio à integridade territorial da Ucrânia, mas não apoiou as sanções da UE contra a Rússia.
"Não somos um Estado-Membro da UE. Não há nada que possa fazer em relação a isto. Não tenho influência nenhuma nisto", afirmou.
O eurodeputado português referiu-se às sanções internacionais contra a Sérvia, mas manifestou dúvidas quanto ao facto de as sanções "trazerem os melhores dos resultados" e argumentou que estas só prejudicam o cidadão comum.
Críticas da UE aos protestos
Relativamente ao alargamento da UE, o presidente sérvio defendeu a sua liderança contra as críticas apresentadas num novo relatório da Comissão Europeia sobre os países candidatos à adesão.
O relatório sobre o alargamento, publicado na terça-feira, refere que "a polarização na sociedade sérvia aprofundou-se no contexto dos protestos em massa, o que reflete a deceção dos cidadãos, sobretudo em relação à corrupção".
Bruxelas condenou também o "uso excessivo da força contra os manifestantes" e o "retrocesso na liberdade de expressão e a erosão da liberdade académica".
No fim de semana passado, a Sérvia voltou a assistir a manifestações em massa para assinalar o primeiro aniversário da catástrofe ocorrida numa estação de comboios na cidade de Novi Sad, no norte do país.
O colapso da estação de comboios, que matou 16 pessoas, deu origem a um movimento por parte dos jovens que apela a uma mudança política.
Vučić ignorou as repreensões de Bruxelas e os protestos na Sérvia, chagando a sublinhar as credenciais económicas da Sérvia.
"Já lido com protestos desde que me tornei primeiro-ministro em 2014", disse Vučić. "Mas mesmo com isso, temos vindo a evoluir com boas taxas de crescimento."
"Também tenho de acrescentar que a dívida pública diminuiu quando me tornei primeiro-ministro devido à nossa disciplina. A dívida pública em relação ao PIB é atualmente de 43 %, metade da média da UE", continuou.
Citando sinais de progresso económico, Vučić sublinhou também a melhoria da notação de crédito da Sérvia.
Em 2024, o país recebeu a primeira notação de grau de investimento quando a Standard & Poor subiu a Sérvia de BB+ para BBB, com uma perspetiva estável. A S&P foi assim a primeira agência a retirar as obrigações em moeda estrangeira da Sérvia do estatuto de "junk".
Esta decisão está, em parte, ligada ao plano "Expo 2027" dos países dos Balcãs, uma feira destinada a atrair investimento estrangeiro. A este evento está associada uma série de projetos de infraestruturas e de desenvolvimento.
"Já recebemos a confirmação de que poderão participar na feira 127 países", disse Vučić.