O presidente dos EUA, Donald Trump, argumentou repetidamente que o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, está a "usar a guerra" para evitar a convocação de novas eleições.
A Ucrânia não precisa de lições sobre democracia, disse à Euronews a vencedora do Prémio Nobel da Paz, Oleksandra Matviichuk, rejeitando as alegações da administração Trump de que as autoridades de Kiev estão a usar a guerra como desculpa para evitar eleições.
"Não precisamos de ser ensinados sobre eleições", disse Matviichuk em entrevista à Euronews. "Em 2004, os ucranianos organizaram a Revolução Laranja depois de o processo eleitoral ter sido adulterado. Damos valor às eleições. A questão é se temos segurança para as organizar".
O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, disse esta semana que a Ucrânia "está prestes a deixar de ser uma democracia" e repetiu as suas críticas ao presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, argumentando que o governo ucraniano está a usar a guerra para evitar a convocação de uma votação.
As autoridades ucranianas têm afirmado repetidamente que apoiam a realização de um novo escrutínio, que testaria a popularidade de Zelenskyy e a sua gestão do esforço de guerra e das conversações de paz, mas apontam para as complicações logísticas de o fazer enquanto o país está a ser atacado diariamente por mísseis e drones e os soldados com direito de voto permanecem destacados na linha da frente.
A Ucrânia tinha eleições marcadas para 2024, mas o sufrágio acabou por não se realizar. A lei marcial está em vigor desde o início da invasão total da Rússia, em fevereiro de 2022.
No entanto, a administração Trump está a fazer pressão para que uma eleição ucraniana rápida seja incluída em qualquer acordo de paz.
Para facilitar as negociações num momento delicado para Kiev, Zelenskyy disse esta semana que está "pronto para as eleições" e rejeitou as sugestões de que está a usar a guerra como uma desculpa para evitar a votação e permanecer no cargo. É "francamente, uma história completamente absurda", afirmou o chefe de Estado ucraniano.
Na quarta-feira, Zelenskyy disse que iria apresentar em breve mais "documentos refinados" aos EUA, juntamente com parceiros europeus, para acabar com a guerra. Trump sugeriu que poderia viajar para a Europa esta semana para participar numa reunião. Matviichuk defendeu que o ponto-chave será a definição de garantias de segurança bem desenvolvidas para evitar futuras agressões.
Em declarações à Euronews, Matviichuk, cujo Centro para as Liberdades Civis foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 2022, juntamente com o ativista bielorrusso Ales Bialiatski e o grupo russo de direitos humanos Memorial, pelo seu trabalho de denúncia de alegados crimes de guerra, acrescentou que deve ser feita justiça pelas atrocidades cometidas pelo exército russo na Ucrânia.
O acordo deve conduzir a uma paz duradoura e justa, e não apenas a uma pausa para a Rússia se reagrupar e atacar novamente.
"Será que o acordo irá conter novas e fortes garantias de segurança que façam Putin compreender que é impossível ocupar e destruir toda a Ucrânia?", questionou.
Sobre se Trump merece o Prémio Nobel da Paz, para o qual o presidente dos EUA está a fazer campanha e do qual ela é beneficiária, Matviichuk disse que "só pode desejar-lhe sucesso, porque isso significaria que ele estabeleceu uma paz justa e sustentável".