Dois milhões e meio de europeus sofrem de traumatismo craniano, todos os anos.
Dois milhões e meio de europeus sofrem de traumatismo craniano todos os anos. A recuperação depende da forma como foram tratados e do local onde foram tratados.
Médicos de vários países europeus, reunidos, recentemente, na Universidade de Antuérpia, defendem que os pacientes devem ter um tratamento de melhor qualidade e individualizado.
Os peritos europeus acabaram de lançar um vasto estudo internacional para melhorar o diagnóstico e os cuidados de saúde das pessoas que sofreram um traumatismo craniano.
Uma patologia complexa
Bart sofreu um traumatismo craniano num acidente de carro em 2015. A história deste paciente ilustra bem a complexidade da doença.
Bart recebeu tratamento para os ferimentos nas pernas, mas, na sala de emergências, os médicos não detetaram o traumatismo craniano. O paciente só se apercebeu de que havia um problema quando as pessoas começaram a dizer-lhe que o seu comportamento tinha mudado.
"Ficava muito agitado, à beira da fúria, acontecia de repente, e eu antes não era assim. No início, não quis acreditar, até que um médico me disse que era algo bastante normal que acontecia mais vezes do que as pessoas pensavam", contou o paciente.
O caso de Bart é um dos milhares de casos que vão ser estudados por um grupo de especialistas de vários países da Europa, no âmbito do projeto europeu Center-TBI.
"Felizmente ele teve um tratamento adequado e recuperou totalmente. Mas nos pacientes, que não são tratados, os sintomas podem piorar", afirmou Andrew Maas, especialista em traumatismos cranianos e coordenador do projeto europeu Center-TBI.
Os peritos do projeto europeu reunidos na Universidade de Antuérpia consideraram que é urgente tomar medidas.
"Não houve novos tratamentos para o traumatismo craniano nos últimos quarenta anos. Por isso, nós, investigadores de vários países europeus, tínhamos de nos reunir para estudar esta patologia e perceber melhor o que está a causar a enorme quantidade de mortes e deficiências aos nossos pacientes", sublinhou Fiona Lecky, urgentista e investigadora da Universidade de Sheffield.
Milhares de casos em análise
O projeto europeu vai analisar os casos de 4500 pessoas em 19 países que sofreram um traumatismo craniano.
Os médicos vão examinar homens e mulheres de várias idades, residentes tanto em áreas rurais como em áreas urbanas, entre muitas outras categorias, vão comparar as diferentes respostas a cada situação de emergência e avaliar a forma como os pacientes foram seguidos.
Nos últimos anos, o traumatismo craniano passou a ser visto como uma doença crónica com um custo elevado para a sociedade.
"É um enorme problema para as pessoas e para as famílias. São não só pacientes com dificuldade em mexer um braço ou uma perna, mas podem ter dificuldades em pensar, perceber, comunicar e reintegrar a sociedade. É um problema para a sociedade, para toda a sociedade, porque um em cada duzentos dólares é gasto a tratar as consequências do traumatismo craniano", sublinhou o professor David Menon, consultor em Neurologia da Universidade de Cambridge.
As vantagens da Imagem por Ressonância Magnética
Uma das abordagens promissoras passa pelo recurso à IRM, à ressonância magnética, que permite detetar as lesões e obter detalhes fundamentais para o diagnóstico. É um procedimento mais caro e mais complexo que a TAC, a tomografia axial computorizada, mas pode fazer a diferença.
A TAC é adequada para detetar sangramento ou osso mas o contraste do tecido vê-se melhor com a IRM", explicou Jan Verheyden.
Além de sugerirem o recurso à Imagem por Ressonância Magnética, os investigadores chamam a atenção para a necessidade de melhorar a organização dos cuidados médicos.
"Provavelmente, o grande passo em frente que poderemos poder dar prende-se com a gestão dos cuidados de saúde e com a estratégia de tratamento", sublinhou Andrew Maas.
Os investigadores europeus deverão apresentar as conclusões do projeto sobre o traumatismo craniano em abril de 2020.