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Exclusivo: relatório diz que X não filtra desinformação russa, violando regras da UE

ARQUIVO - A página de abertura do X é exibida num computador e num telemóvel, a 16 de outubro de 2023, em Sydney.
ARQUIVO - A página de abertura do X é exibida num computador e num telemóvel, a 16 de outubro de 2023, em Sydney. Direitos de autor  AP Photo/Rick Rycroft, File
Direitos de autor AP Photo/Rick Rycroft, File
De Pascale Davies
Publicado a
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Cerca de 125 relatórios de desinformação russa foram comunicados ao X, mas apenas um foi removido. As restantes foram largamente ignoradas.

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De acordo com um novo relatório, mais de 100 conteúdos publicados na rede social X, provenientes de meios de comunicação social estatais russos e de atores de desinformação que não cumprem as regras europeias, continuam a aparecer na plataforma de redes sociais, apesar de terem sido denunciados à empresa.

O relatório, encomendado pelo grupo alemão sem fins lucrativos WeMove Europe, que foi partilhado exclusivamente com a Euronews, encontrou "125 publicações que violam claramente as sanções" na plataforma detida por Elon Musk.

Algumas das publicações incluíam programas da emissora estatal russa Russia Today (RT), que foi banida pela União Europeia desde a invasão da Ucrânia, em 2022.

Num dos exemplos, a conta do Ministério das Relações Exteriores da Rússia no X compartilhou um trecho de um documentário produzido pela RT, que dava conta de uma narrativa falsa sobre um colaborador de Adolf Hitler que foi "elevado à categoria de herói nacional pelo regime de Kiev". O post também fornecia um link para contornar as sanções e aceder ao filme completo no Telegram.

Os investigadores por detrás do artigo comunicaram ao X todos os conteúdos considerados ilegais ao abrigo da Lei dos Serviços Digitais da Europa (DSA), as regras de transparência digital do bloco. O relatório concluiu que apenas 57% das denúncias de conteúdos ilegais receberam recibos de confirmação de receção, o que viola o DSA.

Entre as 125 denúncias, apenas uma públicação foi removida pelo X. A empresa diz que não houve violação da legislação da UE.

Em alguns casos, o X respondeu às queixas dos investigadores em dois minutos, segundo o relatório, o que sugere que a automatização está a desempenhar um papel importante na moderação de conteúdos na rede social.

A Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, lançou este ano uma investigação formal ao X por violação da DSA e disse que iria concluir a investigação antes das férias de verão, que começam a 25 de julho.

No entanto, o Financial Times noticiou na semana passada que a Comissão não cumprirá este prazo, uma vez que pretende concluir as negociações comerciais com os Estados Unidos.

A Euronews Next contactou a Comissão para comentar o último relatório e a investigação, mas não recebeu resposta até à data da publicação deste artigo.

Em janeiro, o Ministério Público francês também lançou uma investigação na sequência de alegações de que o algoritmo do X estava a ser utilizado para fins de interferência estrangeira.

Os investigadores apresentaram os relatórios ao X em 8 e 9 de julho de 2025. Na maior parte dos casos, receberam respostas automáticas de que a rede social iria analisar as suas queixas mas, na maioria dos casos, não obtiveram resposta.

A Euronews Next também contactou a emprea para comentar o relatório, mas também não recebeu qualquer resposta.

A guerra online da Rússia

De acordo com o regime de sanções da UE, é proibido oferecer serviços de alojamento de conteúdos a entidades, como emissoras ou indivíduos, sancionadas.

Segundo os investigadores, a Rússia intensificou a sua campanha de desinformação na Europa desde que invadiu a Ucrânia, em 2022.

Junto com contas oficiais do governo russo espalhando notícias falsas, também havia contas provavelmente operadas pela "Agência de Design Social", uma empresa russa conhecida por produzir a campanha de influência da Rússia "Operação Doppelgänger", bem como usuários anónimos que publicavam de form repetida esse mesmo material.

"Globalmente, o volume explodiu de facto [desde a guerra]. É muito mais significativo", disse Charles Terroille, responsável por projetos e investigação no grupo de verificação de factos Science Feedback, que trabalhou no estudo.

"Muitos dos posts que assinalámos no X são, por exemplo, documentários, se assim lhes podemos chamar, ou seja, vídeos de 40 minutos alojados no X que são do Russia Today e que mostram, por exemplo, como a Ucrânia mereceu tudo ou como o [presidente] Zelenskyy e todos os membros do governo e funcionários da Ucrânia são apenas fãs de figuras nazis e todas estas histórias amplamente falsas e relatadas que a Rússia está a apoiar", disse Terroille ao Euronews Next.

Terroille disse que outro método russo consiste em fabricar páginas que se assemelham a meios de comunicação social ocidentais conhecidos e divulgá-las no X e acrescentou que as notícias falsas sobre a saúde pública e a desinformação sobre as vacinas contra a COVID-19 continuam a ser divulgadas, assim como outros temas, designadamente a desinformação sobre o ambiente, e são "absolutamente utilizadas como armas" pela Rússia.

Para Taïme Smit Pellure, ativista digital da WeMove Europe que liderou o relatório, a parte mais chocante da investigação foi o facto de o conteúdo ser também traduzido para as línguas de origem das pessoas, como o francês, e estar "em todo o lado" no X.

A Comissão Europeia e o X deveriam estar a agir mais rapidamente", afirmou à Euronews Next, acrescentando que a sua organização contactou a Comissão Europeia, mas que ainda não obteve uma "resposta positiva".

"Sabemos que estão a trabalhar nisto, não é que estejam a desviar completamente o olhar, apenas estão a levar o seu tempo porque querem fazer as coisas bem feitas e nós compreendemos isso perfeitamente", afirmou.

Outra recomendação para a Comissão é que os governos europeus trabalhem em conjunto de uma forma mais coordenada para resolver esta questão, disse Saman Nazari, investigador principal do grupo de campanha cívica Alliance4Europe, que também trabalhou no documento.

"Enquanto continuarmos a trabalhar apenas nas nossas pequenas bolhas, não temos qualquer hipótese contra um aparelho de influência de vários milhares de milhões de euros", afirmou Nazari que explica que "não há muitas nuances" a tirar do caso.

"Trata-se de conteúdo ilegal puro e simples" e que "não é preciso muito tempo" para encontrar esse tipo de conteúdo e combatê-lo. "Trata-se de um fruto incrivelmente fácil de apanhar", acrescentou.

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