Brilho misterioso sem explicação leva investigador da Universidade de Tóquio a defender que pode ser o primeiro vislumbre direto da matéria escura pela humanidade
Um novo estudo da Universidade de Tóquio afirma que o Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi da NASA detetou um brilho no centro da Via Láctea, que corresponde de perto ao que os cientistas há muito previram que seria produzido se partículas de matéria escura colidissem e se aniquilassem.
Se for confirmado, assinalaria um dos maiores avanços da física moderna.
No início da década de 1930, o astrónomo suíço Fritz Zwicky observou galáxias a moverem-se muito mais depressa do que a sua massa visível podia explicar. Algo invisível, mais tarde chamado matéria escura, parecia mantê-las unidas.
"A matéria escura é a cola invisível que mantém o universo unido. Este material misterioso está à nossa volta e constitui a maior parte da matéria no universo", disse NASA.
Durante décadas, os cientistas só conseguiram inferir a sua existência pelo modo como deforma galáxias e curva a luz. Como a matéria escura não interage com a força eletromagnética, não emite, não absorve nem reflete qualquer luz. Em suma, está lá, mas não a vemos.
Isso poderá estar a mudar.
Com novas observações do telescópio Fermi da NASA, o professor Tomonori Totani, da Universidade de Tóquio, acredita ter identificado raios gama produzidos pela aniquilação de partículas hipotéticas de matéria escura conhecidas como WIMPs, partículas massivas de fraca interação.
Os resultados foram publicados na Journal of Cosmology and Astroparticle Physics na terça-feira (25 de novembro).
Halo de raios gama que não devia existir
"Detetámos raios gama com uma energia do fotão de 20 gigaelétron-volts (ou 20 mil milhões de elétron-volts, uma quantidade de energia extremamente elevada), estendendo-se numa estrutura em forma de halo em direção ao centro da Via Láctea. A componente de emissão de raios gama corresponde de perto à forma esperada para o halo de matéria escura", disse Totani.
O padrão e a intensidade dos raios gama, bem como a sua distribuição em halo em torno do centro galáctico, alinham-se quase na perfeição com as previsões para colisões de WIMPs.
Segundo Totani, a massa inferida das partículas, aproximadamente 500 vezes a de um protão, está em linha com expectativas teóricas de longa data.
E, crucialmente, o sinal não corresponde a emissões de fenómenos astronómicos conhecidos, como pulsares, remanescentes de supernovas ou outras fontes comuns de raios gama.
"Se isto estiver correto, tanto quanto sei, seria a primeira vez que a humanidade 'vê' matéria escura. E verifica-se que a matéria escura é uma nova partícula não incluída no modelo padrão atual da física de partículas. Isto representa um avanço importante na astronomia e na física", disse Totani.
Mais investigação necessária
Mas a descoberta ainda não foi confirmada.
Equipas independentes terão de analisar os dados e os investigadores procurarão assinaturas de raios gama semelhantes noutros locais, sobretudo em galáxias anãs, ricas em matéria escura.
"Isso poderá ser conseguido quando houver mais dados acumulados e, se assim for, fornecerá provas ainda mais fortes de que os raios gama têm origem na matéria escura", acrescentou Totani.