Euronews: Bom dia senhor Salamatian. Você é antigo deputado do Parlamento iraniano, assim como analista dos assuntos internos iranianos. Gostaríamos de o questionar sobre a entrevista exclusiva do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, à Euronews, no dia 3.
A primeira questão que colocámos ao senhor Ahmadinejad estava ligada ao processo do antigo presidente egípcio, Hosni Mubarak.
Nessa entrevista o senhor Ahmadinejad lamentou o
fosso entre certos governos e o seu povo, obrigados a trazer até à justiça os seus dirigentes.
Na sua opinião, como analisa o distanciamento que atualmente separa o governo e povo iraniano, dois anos após as controversas presidenciais e em vésperas de eleições legislativas?
Ahmad Salamatian: O problema não é apenas o afastamento. Mas sim o fosso que se cavou entre a população e os governos, porque o direito dos povos elegerem os seus dirigentes não foi respeitado.
E o governo iraniano não é exceção As imagens do julgamento de Mubarak desencadearam inquietude junto dos dirigentes iranianos, questionam-se quando chegará a vez deles.
E: Como sabe, os líderes da oposição iraniana, senhores Mehdi Karoubi e Hussein Moussavi estão atualmente em prisão domiciliária. Mas o senhor Ahmadinejad fugiu à responsabilidade dizendo que o poder judicial iraniano agia de forma independente.
Qual a sua opinião, principalmente se tivermos em conta o fato que, segundo a constituição iraniana, o presidente da república deve fazer valer a aplicação da constituição
AS: Ele não assegura apenas a aplicação da constituição, acima de tudo, ele, por duas vezes, prestou juramento perante a constituição. Logo, ele comprometeu-se a ajudar o povo, para que este beneficie da liberdade que a constituição lhe garante.
Até ao presente, o poder judicial iraniano não apresentou qualquer justificação, legal ou jurídica, para ter colocado os senhores Karoubi e Moussavi em prisão domiciliária, ou como refém, como dizem alguns.
E: Uma última questão, muito curta. Na sua entrevista, o presidente iraniano, sob a pressão de sanções nos últimos anos, tentou proferir afirmações de reconciliação com a Europa.
Na sua opinião, há alguma razão particular por detrás deste esforço de retomar o diálogo com a Europa?
AS: A recente política do presidente Ahmadinejad para aligeirar as tensões tem a ver com a política interna.
Na realidade, a sua política externa extremista já não resulta na cena internacional.
Ele procura fugir à responsabilidade de ter criado problemas para a república islâmica.
É por isso que , nos próximos meses, ele vai tentar mostrar-se mais moderado em relação aos seus adversários políticos, nomeadamente no que respeita à política internacional.