Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos, desempenha um papel chave na definição da estratégia para combater a crise da dívida.
A última proposta está relacionada com a recapitalização do setor bancário. De acordo com um estudo da Autoridade Bancária Europeia, dezenas de bancos estarão obrigados a coletar cerca de 275 mil milhões de euros.
Margherita Sforza, Euronews: O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, apresentou um projeto de recapitalização dos bancos mais expostos à crise da dívida. Comissário Olli Rehn não pensa que Bruxelas reage um pouco tarde, apesar das advertências realizadas desde o final de agosto pelo Fundo Monetário Internacional?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “A Comissão apelou a uma resposta clara à crise em janeiro deste ano, durante a reunião trimestral. Na verdade, começámos a trabalhar no final do ano passado. As críticas não tardaram a chegar. Agora tenho a certeza de que precisamos de uma estratégia compreensiva para ultrapassar esta crise da dívida soberana que está a fragilizar os bancos. Só depois poderemos assegurar o crescimento sustentável e o emprego na Europa.”
Margherita Sforza, Euronews: Pode dar uma estimativa de quanto dinheiro é preciso para recapitalizar os bancos? Quantas entidades estão em perigo?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “Nesta fase não vou entrar em detalhes. Sabemos que é um número significativo e propusemos um plano de recapitalização em três etapas.”
Margherita Sforza, Euronews: Quem tem de pagar esta recapitalização dos bancos?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “Numa primeira fase, os bancos podem apoiar-se nos investidores privados e nos mercados de capitais. Se não for possível, os Estados-membros deverão por em marcha planos nacionais para a recapitalização e reestruturação dos bancos. Em terceiro lugar, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira poderia ser usado para acordar empréstimos aos governos.”
Margherita Sforza, Euronews: Pensa que o cenário de incumprimento da Grécia deveria ser incluído no próximo teste de resistência dos bancos, o que não foi o caso até agora?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “Não estamos a contar com o default grego. Pensamos que é essencial encontrar um acordo com uma solução sustentável para a Grécia, que implique um segundo programa de financiamento adequado do setor privado e do setor oficial.”
Margherita Sforza, Euronews: O desemprego na Grécia está a aumentar e neste momento supera os 16%. O número de suicídios duplicou, mas apesar desta profunda recessão, a “troika” disse que serão necessárias mais medidas de austeridade para atingir os objetivos previstos para 2013. A Grécia está preparada para apertar ainda mais o cinto?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “Criámos uma task force que trabalha em conjunto com peritos dos Estados-membros para dar ajuda técnica à Grécia, de forma a usar melhor os fundos estruturais para os investimentos e os objetivos de crescimento, e para reformar melhor a administração fiscal e as práticas de privatização.”
Margherita Sforza, Euronews: Quando é que a Grécia pode voltar a ser competitiva?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “A Grécia está a readquirir competitividade em alguns setores da economia. O setor das exportações mostra, ainda que pouco, sinais de melhoria. É vital que as reformas continuem porque a Grécia estava a viver acima das possibilidades e isso precisa de ser corrigido.”
Margherita Sforza, Euronews: Para resolver a crise da dívida, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira tem um papel muito importante, estratégico, mas parece não ser suficiente para esta missão. Por isso falamos agora de uma alavanca, querendo com isso significar a transformação desta ferramenta num banco ou numa companhia de seguros. Qual é a melhor opção na sua ótica?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “Não estamos a propor um aumento das garantias. O que propomos é uma melhor utilização dos recursos existentes, que sejam mais eficazes.
Devemos parar o contágio que atinge as finanças e os mercados de obrigações soberanas na Europa. Se olhar para Itália, Espanha ou Bélgica, pode constatar que os efeitos do contágio já estão em marcha. É por essa razão que precisamos de encontrar uma solução sustentável para a Grécia, porque é a fonte do contágio. E, ao mesmo tempo, devemos reforçar as barreiras de fogo financeiras dos Estados, reforçar as reservas de fundos próprios no sistema financeiro para que o fluxo de créditos individuais e às empresas possa ser assegurado.”
Margherita Sforza, Euronews: Constatamos um abrandamento real no seio da Zona Euro. O comissário citou Espanha e Itália. O crescimento parece bloqueado de certa forma. Pensa que é preciso rever este plano de austeridade que a Europa pôs em marcha?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “Estou desapontado por termos deixado intensificar esta turbulência dos mercados. Poderíamos tê-la parado com uma estratégia compreensiva contra a crise, já decidida no início do ano e depois implementada. Se tivéssemos atuado antes, poderíamos ter evitado muito desta turbulência, protegido o crescimento e o emprego muito melhor do que se fez. Infelizmente agora percebemos que a turbulência dos mercados está a ter um peso considerável no crescimento económico e no emprego. É precisamente essa a razão porque a primeira solução formal neste contexto é conter a dívida da crise soberana através de ações decisivas.”
Margherita Sforza, Euronews: De certa forma está a dizer que a Europa foi mais lenta do que os mercados. Mas agora estamos a falar de um novo ministro financeiro europeu. Qual será o papel desta pessoa?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “É essencial reforçar a governação económica e nesta matéria penso que o mais importante é como podemos melhorar a política de coordenação na Europa, para complementar a forte união monetária já existente com uma união económica verdadeira e genuína.”
Margherita Sforza, Euronews: Se lhe oferecessem, aceitaria esse trabalho?
Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos: “Não estou a fazer campanha. Não imagino uma vaga neste momento.”