As eleições russas de 4 de março são inéditas, no sentido em que estão a ser precedidas por uma onda de contestação civil sem precedentes.
Mikahil Prokhorov vem de fora do sistema. É o único candidato completamente independente, sem qualquer filiação política. É um empresário de sucesso, multimilionário e concorre pela primeira vez.
A primeira questão que lhe quisemos colocar foi: porquê este interesse repentino pela política?
Mikhail Prokhorov: Toda a gente procura um desenvolvimento pessoal. Quem para, vai para a reforma. Quando percebemos que, nos negócios, já obtivemos bons resultados e não podemos ajudar mais o país, começamos a pensar em outras maneiras de o fazer. Foi aí que comecei a interessar-me pela política. É nesse campo que podemos ajudar melhor o nosso país.
Alexandre Shashkov, euronews: Então esta campanha eleitoral é mais uma experiência para si. Dizem que já se sabe o resultado…
Mikhail Prokhorov: Não concordo consigo. Vivemos num mundo muito dinâmico. A nossa sociedade acordou. A política está na cabeça de toda a gente. As últimas duas semanas de campanha podem trazer algumas surpresas agradáveis.
Alexandre Shashkov, euronews: Quanto a misturar negócios com política, o caso de Khodorkovsky não lhe mete medo?
Mikhail Prokhorov: Não. Este país mudou muito desde essa altura. As pessoas já não querem sacrificar a liberdade e a segurança só pela riqueza material. As pessoas querem respeito. E isso não se compra com dinheiro.
Alexandre Shashkov, euronews: Em poucas palavras, em que é o seu programa diferente dos outros?
Mikhail Prokhorov: O cidadão tem de estar na base de todas as políticas do Estado e essas políticas devem servir, não os interesses do Estado, mas do cidadão.
Segundo ponto, penso que devemos criar um mercado único com a Europa. A Rússia, sem a Europa, não pode competir neste mundo globalizado e vice-versa.
É absolutamente impossível. E, última coisa, acredito que só um verdadeiro gestor, com uma grande experiência na gestão de grandes sistemas pode liderar o nosso país neste campo.
Alexandre Shashkov, euronews: Se as eleições forem a uma segunda volta e ficar de fora, quem vai apoiar?
Mikhail Prokhorov: Nem sequer penso nesse cenário. Se houver segunda volta, vou ser certamente um dos candidatos.
Alexandre Shashkov, euronews: Imaginemos então que vai à segunda volta e perde. Vai ficar na política? Aceita um cargo no governo, se lho oferecerem?
Mikhail Prokhorov: Não vou aceitar nenhum cargo no atual sistema. Porque é um monopólio, não há concorrência, o próprio primeiro-ministro desempenha um cargo puramente técnico, como porta-voz do Kremlin. Por isso, vou fundar o meu próprio partido.
Alexandre Shashkov, euronews: Tem seis anos até às próximas eleições…
Mikhail Prokhorov: Não necessariamente. Em primeiro lugar, há eleições virtualmente todos os meses, nas regiões. Acima de tudo, não acho que, nas circunstâncias atuais, a Duma Estatal vá durar muito tempo. Há uma grande falta de confiança política da parte dos cidadãos.
Alexandre Shashkov, euronews: Vai construír o seu partido com base em alguma estrutura política existente?
Mikhail Prokhorov: Vou construír o meu partido com todos aqueles que partilhem dos meus valores, com os cidadãos que querem mudança e com base no meu programa. A minha plataforma vai estar continuamente a ser expandida graças às ideias dos cidadãos.
Mais ainda, quero construir um partido com uma base completamente nova, à base de grupos, que vão contribuir com ideias. Cada um desses grupos vai ter um líder que trata as questões. É um partido com várias raízes, algo que ainda não existe na Rússia. É um partido assim que queremos construír.
Alexandre Shashkov, euronews: É um partido orientado à direita?
Mikhail Prokhorov: Vai ser um partido eficaz. Há desafios que o nosso país está a enfrentar e que têm de ser tratados de forma eficaz.
Esses métodos eficazes são apresentados no meu programa e vão ser os cidadãos a decidir se é um partido de centro-direita, centrista ou de esquerda. Começo sempre pela tarefa a desempenhar. E a nossa tarefa é tornar os cidadãos ricos, com sucesso, livres e que o destino deles e dos filhos deles fique ligado à Rússia.