Manifestação europeia contra a austeridade

Milhares de pessoas sairam às ruas das principais capitais europeias em protesto contra aquilo que chamam de políticas de empobrecimento.
No sul da Europa o dia foi também de greves gerais que deixaram Portugal, Espanha, Itália e Grécia quase paralisados.
As mensagens nas ruas não são novas, mas são cada vez mais comuns aos vários países: não é possível aguentar mais cortes, aumentos de impostos e é obrigatório avançar com políticas de incentivo à criação de emprego.
Para falar sobre o dia de mobilização sindical, junta-se a nós o economista Henri Sterdyniak, professor de Ciência Política em Paris, mas também co-autor do “Manifesto de economistas aterrados”, um conjunto de especialistas que se opõe ao neo-liberalismo.
Olaf Bruns, euronews:
“Milhares de pessoas manifestaram-se, em vários países da Europa, contra a austeridade. Concretamente, o que é que não funciona com a austeridade?”
Henri Sterdyniak, economista:
“Na Europa são impostas políticas de austeridade que não resolvem de todo as questões levantadas pela crise e que, pelo contrário, as agravam…uma vez que se estão a pressionar as despesas públicas, as despesas sociais, pedem, em todos os países, aos assalariados que aceitem a estagnação, vendo mesmo os ordenados baixar. E tudo isso faz cair a procura.”
Olaf Bruns, euronews:
“Mas quando toda a Europa se encontra à beira do abismo e alguns países viveram muito acima das possibilidades, é necessário cortar na despesa.”
Henri Sterdyniak, economista:
“Não tenho a mesma opinião, não é essa a questão importante hoje, não é a redução das despesas. Por causa da crise, perdemos 8% da atividade económica, ou seja, ao contrário, é preciso recuperar 8 pontos da procura: é necessário investir mais, é necessário consumir mais para empregar mais gente. Por isso, a questão essencial é voltar a pôr a máquina a funcionar.”
Olaf Bruns, euronews:
“Toda a zona Euro está em recessão, uma recessão que pesa na economia mundial. É a austeridade responsável por essa recessão?”
Henri Sterdyniak, economista:
“A austeridade não é a única responsável pela recessão. O fenómeno essencial é que o capitalismo financeiro enfrenta uma crise, os factores que suportaram o crescimento até 2007 desapareceram. As bolhas financeiras, as bolhas imobiliárias, as estratégias alemãs e chinesas de procurar a competitividade…esses factores desapareceram e em vez de reflectir como se pode impulsionar a economia mundial, está a ser feito o contrário, acrescenta-se austeridade a uma situação que já é catastrófica.”
Olaf Bruns, euronews:
“Mas qual é a alternativa concreta à austeridade?”
Henri Sterdyniak, economista:
“É preciso uma estratégia coordenada à escala europeia. O objetivo é lutar contra o desemprego, não é reduzir os défices públicos. É preciso relançar a atividade económica, é preciso apoiar as empresas inovadoras, aquelas que estão empenhadas na transição ecológica, na renovação urbana, na economia de energia, energias renováveis. Há muito que fazer. É fundamental que a Europa se torne uma Europa solidária, ecológica e social e que seja renunciado o dogma do neo-liberalismo.”
Olaf Bruns, euronews:
“Mas como avançar politicamente com essa alternativa?”
Henri Sterdyniak, economista:
“Com a crise, países como a Alemanha vão também sofrer consequências e, nesses países, as forças progressistas também vão reagir. Se parece que a Europa está mergulhada na recessão, a Alemanha não vai ficar de boa saúde por muito tempo e nessa altura podemos fazer entender aos alemães que a sua estratégia conduziu a Europa a desequilíbrios insuportáveis.”