As milionárias promessas de Merkel para chegar ao terceiro mandato

As milionárias promessas de Merkel para chegar ao terceiro mandato
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A três meses das eleições parlamentares alemãs, os líderes da CDU e da CSU apresentaram o programa conjunto, em Berlim. As críticas não tardaram. Calcula-se que as promessas dos conservadores ascendam aos 30 mil milhões de euros, destinados sobretudo a políticas de apoio às famílias e à educação. O parceiro de Merkel na coligação, o FDP, fala no “veneno do despesismo”. Os sociais-democratas apelidam o programa de “conto de fadas” e “crónica de uma fraude anunciada.”

Os benefícios fiscais são as armas de Angela Merkel para tentar conseguir um terceiro mandato como chanceler alemã. “Este é um programa comedido e centrista. Não tem encargos suplementares para os cidadãos, nem para a economia do país, porque ao abrirmos espaços de liberdade e ao motivarmos as PME, as empresas pequenas e familiares, mas também as grandes empresas, as hipóteses de termos mais receita fiscal são maiores do que se estivéssemos a desmotivá-las, aumentando os impostos”, disse Merkel na apresentação do programa.

Não há subida de impostos, mas mantém-se o rigor orçamental. Ao mesmo tempo, a CDU-CSU faz promessas às famílias com filhos: um novo método de cálculo, mais favorável em termos de impostos, um aumento dos abonos de família e das reformas das mães.

Mas o grande trunfo dos democratas-cristãos é a própria chanceler, que tem uma cota de popularidade de 58%. Os alemães apreciam nela o bom senso e a humildade. Tem uma larga vantagem sobre o principal adversário.

O líder do SPD, Peer Steinbrück, tem apenas 18% de popularidade. Ele, que foi ministro das Finanças de Merkel no tempo da grande coligação, criticou duramente o programa de governo da CDU: “não passam de frases sem sentido e promessas vazias. Não podemos deixar de pensar que a CDU-CSU não leva a sério o seu próprio programa eleitoral. Isso vê-se no programa, porque não dizem como vão financiar estas promessas loucas que fazem.”

A três meses das eleições, nada é certo para Merkel. A CDU-CSU tem 40% de intenções de voto e os aliados do FDP têm 6%, o mínimo requerido para entrarem no Bundestag, a câmara baixa do parlamento.

A oposição – SPD, Verdes e Die Linke – totaliza 45%, mas é improvável que o Die Linke queira entrar numa coligação de governo.

A euronews fez um ponto da situação com René Pfister, da revista DER SPIEGEL.

euronews: Considera que as críticas ao programa de Merkel são justificadas?

René Pfister: Sim, totalmente justificadas. O maior problema deste programa eleitoral é prometer coisas que não há maneira de pagar. É no interesse da CDU colocar o foco nos protagonistas políticos. A chanceler Angela Merkel é o centro destas eleições, não este ou aquele ponto do programa. Aliás, o programa foi elaborado de forma a que o SPD não o possa atacar. Todas as questões, como o salário mínimo ou as quotas para as mulheres, são abordadas. Ou seja, o SPD não se pode queixar, porque a CDU também se preocupa com estes pontos. Mas há aqui uma perversão: o objetivo deste programa eleitoral é não dar espaço aos ataques do SPD.

euronews: A credibilidade de Angela Merkel não fica em causa, quando impõe programas de austeridade na Grécia e faz promessas milionárias no seu próprio país?

RP: Sim, de facto perde a credibilidade toda. Angela Merkel fala imenso nas reformas. Mas se atentarmos nos resultados que tem tido na Alemanha, estes tiveram origem no governo anterior – as mudanças foram iniciadas por Gerhard Schröder. E fizeram o SPD perder muitos votos. Merkel salienta, por exemplo, a redução da idade de reforma para os 67 anos. Essa foi uma alteração implementada por Franz Müntefering, do SPD, não pela CDU.

euronews: Pode Peer Steinbrück encurtar a distância que o separa de Merkel nas sondagens?

RP: Vai ser muito difícil para os sociais-democratas saírem do buraco negro. Acho que acabaram por tropeçar nesta campanha. Durante muito tempo, ninguém sabia quem era o candidato deles. Depois foram forçados a nomear Peer Steinbrück, quando Frank-Walter Steinmeier recusou avançar. Após este início conturbado, os erros começaram a suceder-se. Steinbrück defende reformas económicas, mas ao mesmo tempo os sociais-democratas estão politicamente cada vez mais próximos da esquerda. O que significa que o candidato não encaixa no partido. Mas continuam a tentar, o que é muito aborrecido. Para além disso, Steinbrück tem cometido erros enormes. Durante meses, não teve consciência do que significa ser candidato à chanceleria, com toda a exposição mediática que isso acarreta.

euronews: Os Verdes vão ser prejudicados por propor o aumento de impostos?

RP: Acho que é a esquerda em geral que vai sair prejudicada. As pessoas que votam nos Verdes costumam ter um espírito de partilha com a comunidade. Mas, de repente, a questão central do debate eleitoral é se os impostos vão ou não subir. E a CDU ainda acentua mais essa questão. Tornou-se na grande diferença que opõe o SPD e a CDU. Se a questão determinante estiver na carteira das pessoas, então será muito difícil para o campo da esquerda vencer estas eleições.

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