"A Rússia ainda vai aperceber-se do muito que está em jogo na Síria"

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A possibilidade de uma intervenção militar na Síria voltou a colocar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) debaixo dos holofotes uma vez mais. A Aliança, de que Portugal foi um dos países fundadores em 1949, já liderou antes outras intervenções onde contou com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). Qual o papel que poderá ter agora a NATO, se é que algum, numa eventual ação militar contra o regime sírio?

Com o debate a agravar-se no seio da Comunidade Internacional, a euronews falou em exclusivo com o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, de 60 anos, apoiante de uma contra resposta internacional face ao Governo liderado por Bashar al-Assad, na Síria, o qual o antigo pri9meiro-ministro dinamarquês aponta como responsável pelo ataque com armas químicas que resultou num massacre civil não muito longe da capital, Damasco.

euronews: Senhor secretário-geral, aceitou falar connosco enquanto o Mundo decide o que fazer face ao ataque com armas químicos registado próximo de Damasco. E a NATO: o que está fazer, vai fazer ou está a planear fazer em relação à Síria?
A. F. Rasmussen: Em primeiro lugar, deixe-me sublinhar que eu não antevejo qualquer outro papel para a Organização do Tratado do Atlântico Norte. A NATO já faz a sua parte enquanto forum de consulta para os países aliados e, da nossa parte, limitámo-nos a deslocar mísseis Patriot para assegurar a defesa e proteção da Turquia e dos turcos. Não antevejo nada mais além disso. Mas, tendo dito isto, estamos também imensamente preocupados com a situação que se vive na Síria e é minha convicção de que os ataques com armas químicas na Síria não podem ficar sem uma resposta. É necessário que a Comunidade Internacional envie uma clara e forte mensagem aos ditadores de todo o Mundo de que não podem recorrer ao uso de armas químicas sem esperar uma resposta.

euronews: E como se faz isso? Como é que se envia essa mensagem?
A. F. Rasmussen: Bem, isso cabe decidir a cada uma das nações. Como sabem, estão a fazer-se considerações sobre o tema agora mesmo. Para mim, é da maior importância que a Comunidade Internacional envie uma clara mensagem. É uma responsabilidade da Comunidade Internacional defender e impor o cumprimento da proibição do uso de armas químicas.

euronews: Qual é o grau de certeza que possui de que foi de facto o regime sírio que cometeu esta atrocidade?
A. F. Rasmussen: Eu estou convencido de que foi o Governo Sírio o responsável. Várias fontes apontam para eles como culpados e eu não acredito que a oposição síria tenha capacidade para conduzir um ataque destes – a esta escala e desta envergadura. É irracional pensar que a oposição fosse atacar o seu próprio povo em zonas que já controlavam e, ainda por cima, com armas químicas. Não tenho qualquer dúvida, na minha cabeça, de que o regime sírio é o responsável.

euronews: Porque é que leva mais a sério um ataque com armas químicas do que o assassínio de civis a tiros de bala?
A. F. Rasmussen: É claro que as mortes que temos visto no conflito da Sírio são revoltantes. Talvez mais de 100 mil pessoas foram mortas. É horrível. Mas o uso de armas químicas, contudo, é muito especial. As armas químicas podem ser usadas de uma forma limitada. Mas podem também ser transformadas numa arma de destruição massiva. É por isso que existem muitas restrições nas convenções internacionais. De facto, o uso de armas químicas foi mesmo banido por essas convenções. E é por isso que a Comunidade Internacional tem uma responsabilidade particular quando é preciso impor essas mesmas convenções internacionais.

euronews: O senhor sabe que a Rússia apoia o atual governo sírio e que lhe fornece armamento. A Rússia tem uma base naval na Síria. Seja quem for que ataque – não estarão também a eles a desafiar ou a arriscar entrar mesmo em confronto com a Rússia? Isso não o preocupa?
A. F. Rasmussen: Eu lamento profundamente as divisões que se fazem sentir e penso que uma Comunidade Internacional dividida acaba por ter muita responsabilidade no que toca ao conflito na Síria. Mas eu acho que no final a Rússia ainda vai aperceber-se do muito que está em jogo na Síria e não vai forçar outro conflito. Eu acredito, sim, de que a responsabilidade de toda a Comunidade Internacional é garantir o respeito pelas convenções internacionais contra o uso de armas químicas.

euronews: A relação com a Rússia está, de momento, um pouco tensa. Estamos a falar consigo aqui, em Vilnius, na Lituânia. E em breve, em novembro, a Lituânia vai receber um exercício da NATO no qual, pelo que percebi, vai simular-se uma invasão por uma potência exterior. A Rússia e a Bielorrússia também vão realizar exercícios similares por estes dias perto da Lituânia. Moscovo já afirmou que isto lhe traz recordações da Guerra Fria. Concorda?
A. F. Rasmussen: Não. O que eu acho, neste momento, é que todos se devem acalmar. É perfeitamente normal que forças militares realizem exercícios. Aliás, é mesmo necessário que o façam. Nós fazemo-lo. Os russos fazem-no. Não penso que os problemas sejam os exercícios só por si. O problema é se não houver transparência. E é por isso que nós proporcionamos total transparência. Convidámos a Rússia para conhecer mais sobre os nossos exercícios. Não temos nada a esconder e encorajamos a Rússia a informar-nos também sobre o exercício deles. De facto, até já tivemos conversas bem interessantes dentro das reuniões entre a NATO e a Rússia. Gostamos disso e, por isso, penso que, no que toca a exercícios militares, o mais importante é haver total transparência para que não aconteçam equívocos nem mal-entendidos.

euronews: Os Estados Unidos ofereceram o que consideram ser uma concessão aos russos, em relação ao escudo antimísseis na Europa e ao desarmamento. Como reage à resposta da Rússia a esta oferta?
A. F. Rasmussen: Antes de mais deixe-me dizer que decidimos construir a base de defesa antimíssil da NATO porque queremos proteção efetiva da nossa população contra ataques de mísseis. Sabemos que mais de 30 países em todo o mundo têm ou adquiriram tecnologia para mísseis e alguns deles têm alcance suficiente para atingir alvos na Europa. Nós queremos proteger a nossa população e foi por isso que construímos este sistema da NATO. Convidámos a Rússia a colaborar connosco, mas até agora eles ainda não responderam de forma positiva. Os americanos, recentemente, alteraram de forma ligeira a abordagem ao tema. Mas essa mudança não vai afetar o facto de que em 2018 o sistema de defesa antimíssil da NATO vai ter cobertura total.

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