Ex-embaixador francês na Ucrânia: "Europa não vai impôr nada"

Ex-embaixador francês na Ucrânia: "Europa não vai impôr nada"
De  Euronews
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O desfile com a bandeira europeia, de dezenas de milhares de ucranianos, constituiu uma das manifestações mais emocionantes, no dia 24 de novembro, quando ainda se julgava possível o acordo com a União Europeia.
Pacificamente, pretendiam pressionar o presidente Ianukovich a rever o acordo aduaneiro com a Rússia.

Uma manifestante explica:
“Hoje, já não se trata de escolher uma política ou um partido em particular, mas unicamente exprimir os valores que o povo escolheu.
Não há bandeiras políticas aqui, há muitas bandeiras ucranianas e bandeiras europeias.”

Em pouco mais de dois meses, o braço de ferro entre os manifestantes e o regime, tornou-se muito violento. O protesto teve eco em todas as cidades e vilas, inclusivamente nas regiões de influência russa do Leste, como em Dnipropetrovsk, um dos bastiões de Ianukovich.

As cenas de guerrilha urbana são, agora, frequentes e já causaram mortos. Uma das imagens mais chocantes das humilhações públicas foi a de um manifestante despido pela polícia e obrigado a manter-se quieto com uma temperatura de – 10° enquanto os agentes lhe batiam repetidamente.

Perante a deriva, o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy foi bastante claro, durante a visita a Varsóvia, na Polónia, na semana passada: mantem a oferta de cordo de assiociação com Kiev, mas condena a violênca.

Herman van Rompuy – À luz da trágica e fatal escalada de violência, em Kiev, deploro e condeno o uso injustificado de força e brutalidade das autoridades ucranianas contra os manifestantes”. A UE apela ao governo ucraniano para cumprir as promessas feitas e continuar a negociar com a oposição as eleições presidenciais antecipadas.

Jean-Paul Véziant, que foi embaixador de França na Ucrânia, entre 2005 a 2008, dá-nos a sua visão da crise.

Irina Gilbert, euronews – A Ucrânia atravessa, sem dúvida, a maior crise desde a independência Kiev é teatro de confrontos violentos entre manifestantes e forças da ordem. O que pensa das imagens que recebemos da Ucrânia?

Jean-Paul Véziant – Questiono como chegámos aqui desde 21 de novembro passado. Há quem fale já de guerra civil. Se uma parte da população se manifesta, há uma outra parte que não se manifesta, uma parte da Ucrânia silenciosa. E esta Ucrânia silenciosa não apova o que se passa em Maidan.. Mas não podemos dizer que está em guerra com a outra parte da Ucrânia. No coração da Europa, em 2013, estas violências políticas, estes sequetros, estas brutalidades, esta humilhação dos manifestantes, os ataques aos jornalistas… não consigo compreender. É difícil suportar, até porque este tipo de coisas fazia parte do passado. Mesmo nas mais altas tensões de dezembro de 2004, não houve mortos, havia desejo de diálogo. Os manifestantes, com uma determinação pacífica, forçaram o diálogo e mudaram o curso dos acontecimentos. Será possível termos em conta esse espírito de 2004 da Revolução Laranja? Será que ainda podemos conseguir? Não sei.

euronews – Quando era embaixador de França na Ucrânia, participou na aproximação cultural e económica dos dois países. Essa aproximação tem futuro?

Jean-Paul Véziant – Sim, esta aproximação tem futuro. Mesmo que haja quem pense que o que se fez todo este tempo está perdido, não é verdade. O investimento feito resultou numa compreensão mútua, um respeito mútuo que não vai ser apagado do dia para a noite. Uma imensa maioria de ucranianos acredita no desenvolvimento destas relações. Sabem muito bem que a Europa não propõe um novo espaço estratégico ou a adesão à NATO, mas uma cooperação a outro nível, de encorajamento ao desenvolvimento industrial.
Acredito que há benefícios mútuos para a Ucrânia e para a Europa e também creio que a semente da prosperidade está lançada.

euronews – O que pode fazer a Europa para a estabilidade e a calma serem restabelecidas na Ucrânia?

Jean-Paul Véziant – Para a União Europeia, é aos ucranianos que cabe escolher livre e democraticamente, sem pressão exterior e na continuidade, ou seja, quando houver um compromisso seguir pela via escolhida.
Lembro, a este propósito, que as proposições da assinatura de um acordo de associação feito por Bruxelas continuam sobre a mesa. Que pode fazer a Europa? Já o disse: não pode impôr nada e deseja que seja, os ucranianos a poderem escolher. Mas, para tal, é preciso restabelecer a confiança, manifestamente quebrada. Talvez seja necessário que uma terceira parte se apresente como garante da sinceridade, da confiança que é preciso restabelecer entre as diferentes forças políticas da Ucrânia. Creio, sinceramente, que a diplomacia tem recursos, que pode apresentar propostas, pode atuar muito melhor do que jamais o conseguirão as repressões policiais, mas para isso é preciso vontade política. Além disso é preciso ir depressa, antes que a situação escape ao controlo de uns e de outros. Este é o meu voto para o vosso país, para a Ucrânia. E desejo-vos boa sorte.

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