O governo terá ajudado a promover a manifestação antiterrorismo. Alguns terão aproveitado para criticar e responsabilizar o executivo, gerando a violência
Uma manifestação pacífica em Adis Abeba, capital da Etiópia, em memória dos cristãos etíopes executados na Líbia pelo grupo terrorista Estado Islâmico (ISIL, na sigla inglesa) acabou, esta quarta-feira, em confrontos com a polícia.
Os protestos começaram por ter como alvo o grupo “jihadista” e o terrorismo. “Não nos vergamos ao terrorismo”, “o mundo tem de se unir contra o terrorismo”, lia-se em alguns dos cartazes empunhados. Um outro grupo de manifestantes ter-se-á, entretanto, juntado aos protestos e apontou o alvo à alegada passividade do governo etíope, que tarda em criar condições no país para reduzir o desemprego.
Thousands of Ethiopians march to protest killing of Ethiopian Christians in Libya by Islamic State group: http://t.co/LkRSA5Ap38
— The Associated Press (@AP) 22 abril 2015
Daniel Dawit era amigo de um dos etíopes cristãos que surgiram a ser executados num vídeo divulgado durante o fim de semana pelo ISIL. Ele lamenta que os jovens etíopes continuem a ter de arriscar uma migração clandestina para tentarem encontrar uma vida melhor além-fronteiras: “Os etíopes emigram porque nós queremos uma vida melhor. Temos etíopes com habilitações e diplomas, mas nós não conseguimos encontrar trabalho aqui. Os etíopes não querem emigrar. Mas a atual situação força-nos a isso.”
A manifestação desta quarta-feira foi alegadamente promovida pelo próprio governo, para prestar solidariedade às famílias dos etíopes mortos pelo grupo “jihadista”. O evento assinalava também o início de três dias de luto nacional pelas vítimas desta execução coletiva. Mas acabou por descambar em confrontos com a polícia.
Às pedras lançadas por alguns dos manifestantes, as autoridades responderam com gás lacrimogéneo e o uso de bastões. Várias pessoas foram detidas e alguns agentes de autoridade tiveram de ser retirados da zona de confrontos.
Apesar das críticas à falta de condições no país, o primeiro-ministro da Etiópia apela aos jovens para não deixarem o país, arriscando uma perigosa travessia do deserto do Sara com destino à Europa.
Mapped: Migrant deaths attempting to reach Europe by sea since 2000 http://t.co/iYDIHMHpD4pic.twitter.com/etZOto0blM
— Telegraph News (@TelegraphNews) 22 abril 2015
Embora a economia etíope esteja em rápido crescimento, a taxa de desemprego continua alta — na ordem dos 17,4 por cento, de acordo com a Agência Central de Estatística da Etiópia. Muitos jovens arriscam a travessia do deserto até à Líbia e, daí, a do Mediterrâneo rumo à Europa.
Às mortes a avolumarem-se por estes dias no mar, somam-se agora a dos cristãos executados pelos terroristas islâmicos. O perigo agrava-se em torno do sonho de encontrar o “El Dorado” europeu.
Islamic State shoots and beheads 30 Ethiopian Christians in Libya in video: http://t.co/KZA9p156jk
— Reuters Top News (@Reuters) 20 abril 2015