Migrantes viram-se para a Grécia... até quando?

Roída pela crise, a Grécia ultrapassou a Itália como principal entrada marítima para os migrantes que tentam atingir a Europa. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), só na primeira metade deste ano chegaram, por mar, 68.000 pessoas à Grécia.
A crise dos migrantes não pode ser usada como arma para negociar um novo acordo entre a Grécia e os credores.
As novas barreiras terrestres nas fronteiras da Turquia com a Grécia e a Bulgária fazem com que cada vez mais pessoas procurem a travessia por mar, mais arriscada.
Outra das conclusões do ACNUR é que os melhoramentos nas missões de busca e salvamento da União Europeia ajudaram a salvar vidas. Em abril, os líderes europeus chegaram a acordo para triplicar o financiamento da missão Triton, destinada a travar o número de mortes no Mediterrâneo. De 1787 mortos nos primeiros quatro meses do ano, passou-se para 80 nos últimos dois meses. São números encorajadores, que significam que estamos a ter uma política adequada e respostas operacionais eficientes. Temos, no entanto, de manter a vigilância, porque há milhares de pessoas que continuam a atravessar o Mediterrâneo todas as semanas”, diz o Alto Comissário António Guterres.
A missão Triton substituiu a Mare Nostrum, a operação de busca e salvamento que a Itália tinha até novembro e que, segundo políticos como a ministra britânica Theresa May, atraía os migrantes para o Mediterrâneo na expectativa de um salvamento.
A morte de mais de 1300 migrantes, só em abril, obrigou a União europeia a agir.
Que impacto teria um “Grexit”?
Uma eventual saída da Grécia da Zona Euro aumentaria a pressão migratória sobre a Itália e Espanha. Diz Andreia Ghimis, do European Policy Centre: “Para 90% dos candidatos ao asilo, a Grécia é apenas um ponto de passagem, não é atrativa por si só. Provavelmente aumentaria o número de gregos a procurar viver nos outros países da União Europeia, o que provocaria um debate sobre a livre circulação entre os Estados membros.
Marc Pierini, do “think tank” Carnegie Europe, diz que “mais austeridade na Grécia significaria menos dinheiro gasto com os refugiados. No entanto, a crise dos migrantes não pode ser usada como arma para negociar um novo acordo entre a Grécia e os credores, já que o país recebe fundos destinados aos Estados europeus com maior afluxo de migrantes”.
Infografia
Este gráfico mostra as chegadas por mar a Itália e Grécia na primeira metade de 2015. As mortes no mar desceram bastante desde as medidas tomadas em abril deste ano.
Fonte: ACNUR