Muhammad Ali: como se chora a morte de um ícone

Muhammad Ali: como se chora a morte de um ícone
De  Euronews

Muhammad Ali pediu em vida ao público que não se esquecesse de que ele era “O Maior”.

Muhammad Ali pediu em vida ao público que não se esquecesse de que ele era “O Maior”. Agora que morreu, o título é incontestado e permanece. As reações de pesar multiplicam-se e unem-se em volta da figura unanimemente tida como muito maior do que ter sido triplo campeão do mundo.

Em 1974, Ali defronta George Foreman no mítico combate “Rumble in the Jungle” ou “Rugido na Selva”.
Foreman tinha 25 anos, dois títulos de campeão do mundo. Ali tinha estado mais de 3 anos parado, fora vencido por Joe Frazier e já tinha 32 anos. Ganhou.

De um homem que o fez pensar em vingança durante muito tempo depois de o ter picado no ringue gritando-lhe repetidamente ao ouvido “é só isso que tens para dar, George?” mesmo depois de socos que deitariam qualquer um ao chão, George Foreman diz: “Muhammad Ali é incomparável. Eu conheci o mais bem parecido, mais bonito homem que alguma vez conheci na vida, e ele era um pugilista. Quero dizer, ele pertence às artes, pertence à política e pertence à ciência. Que fenómeno. E é algo que não voltaremos a ver de novo, isso posso assegurar.”

Do rancor à admiração, o caminho fez-se e foi sem retorno.
O oitavo round em que foi ao tapete tal como Ali tinha previsto e não mais se levantou, entregando assim o título de campeão do mundo, ficou-lhe na memória. Do combate que ficou conhecido como “discutivelmente o mais importante evento desportivo do século”, resta-lhe um sorriso com que adoça uma derrota pesada: “Ao “Rugido na Selva”, chamo-lhe o “Gamanço na Selva”: fui para lá com dois títulos de peso pesado, voltei sem nenhum.”

Não soam a falso todas as declarações de quem privou com ele e que se estendem sempre muito para lá das cordas de um ringue. Muhammad Ali era um homem completo.

Bob Arum foi promotor de boxe e trabalhou muitos anos com Muhammad Ali: “Quando olho para a vida dele em retrospetiva, -e fui abençoado por poder chamar-lhe amigo, passei muito tempo com ele, -é difícil falar dos seus feitos no boxe porque por maiores que tenham sido, esbatem-se quando comparados com o impacto que ele teve no mundo.”

Ali defendeu os direitos dos negros para além dos punhos; disse não à guerra do Vietname e não a fez; mudou de nome porque mudou de religião e viveu-a até ao fim. Sabia a sua identidade por completo e disse que nos teríamos de habituar a ele: “Eu sou a América. Sou a parte que não reconhecerão, mas habituem-se a mim. Preto, confiante, atrevido. O meu nome, não o vosso. A minha religião, não a vossa. Os meus objectivos, os meus próprios. Habituem-se a mim.”

Os hábitos são difíceis de mudar. Muhammad Ali tornou-se imortal.

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