Qual é o denominador comum entre atentados como os de Paris ou Bruxelas – orquestrados, organizados, coordenados em larga escala – e a carnificina de Orlando executada por um só homem; ou o assassinato de dois polícias em França; o ataque com arma branca a passageiros de um comboio na Alemanha e o ato de um louco que avança com um camião sobre a multidão em Nice? Apenas a morte, a vontade de semear o terror e uma organização: Daesh – o Estado Islâmico.
A organização reivindica os ataques através de comunicados, ou no seu site na internet – Aamaq – uma verdadeira agência de comunicação. Pode fazê-lo também através de vídeos de propaganda. Mas o modo operatório dos atos terroristas é tão díspar, que, por vezes, deixa dúvidas. Normalmente, Daesh ou o Estado Islâmico não reivindica atentados de forma oportunista, uma questão de credibilidade.
A reivindicação pode demorar mais ou menos tempo. Há diferentes casos. O autor pode mostrar a sua fidelidade à causa de Daesh através de um vídeo como o que foi feito pelo assassino do casal de polícias em França, ou por um testamento e os autores são designados “soldados do califado”.
Há outros que, não sendo fiéis ao califado, são considerados simpatizantes da causa. Gente que a organização angaria nas redes sociais com mensagens como a de um combatente que apela aos muçulmanos que vivem em França a utilizarem todos os meios para eliminarem os que designam como infièis – ou seja, todos os que pensam de forma diferente. Uma mensagem de um ódio extremo que incita a todas os meios possíveis de ataque (armas, pedras, viaturas) de forma a “aterrorizar”.
Foi talvez por isso que o terrorista de Nice utilizou um camião. O comunicado de reivindicação chegou apenas 36 horas depois e fez vagamente referência ao apelo lançado pela organização e ouvido pelo autor. Um combatente solitário que escolheu o seu próprio método.
Para o politólogo, especialista do Islão, Gilles Kepel, o que surpreendeu neste atentado de Nice, relativamente aos outros foi a “mudança de dimensão”: “Temos alguém que apresenta um perfil estranho, que utiliza um objeto trivial como um camião de distribuição, que se lança sobre a multidão e que massacra sobretudo crianças. Um ato que suscita um enorme horror. No atentado de Magnanville, há um mês, o tipo que matou os polícias com uma faca fez um vídeo que postou no site do Estado islâmico e a organização cortou as imagens que lhe pareceram que iam longe de mais, por receio que isso afaste potenciais simpatizantes”.
O objetivo é, pois, continuar a recrutar e lançar ataques por todo o lado para semear o terror e a morte como forma de existência, já que, no campo de batalha, o Estado Islâmico recua e o califado perde terreno.