2016: Britânicos decidem "not to be" na União Europeia

2016: Britânicos decidem "not to be" na União Europeia
De  Maria Barradas
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

“To be or not to be” na União Europeia.

PUBLICIDADE

“To be or not to be” na União Europeia. Foi a questão que David Cameron se comprometeu a colocar aos britânicos durante a campanha eleitoral de 2015. Na altura, tratava-se de retórica eleitoral. Sabia-se que muitos na Grã-Bretanha se queixavam cada vez mais da Europa, mas ninguém acreditava que o país pudesse abandonar o navio.

Mas foi sem contar com a mobilização sem precedentes dos partidários da saída, que moveram montanhas para atingir o objectivo, o famoso BEXIT, um termo criado a partir da abreviação de British e êxit. Estes militantes, fortemente motivados, tinham como objetivo simplesmente a saída da União Europeia, a que o país tinha aderido em 1972.

Para dirigir esta campanha anti-europeia, os pró-Brexit tinham duas personagens exuberantes da política britânica. Nigel Farage, o populista chefe do UKIP, o Partido Independentista e Boris Johnson, o ex-presidente da câmara de Londres, eletrão livre do Partido Conservador. Durante toda a campanha os dois martelaram o slogan “Queremos o nosso pais de volta”, com argumentos e representações irónicas sobre a União.

Farage ironizava: “Já nem sequer temos um passaporte britânico, temos um passaporte da União Europeia”.

Boris Johnson contava histórias: “É agora ou nunca, porque se falharmos a mudança agora, vamos sentir-nos como passageiros bloqueados na parte de trás de um veículo pouco fiável comandado por satélite e dirigido por alguém que não percebe inglês e nos conduz para a direção oposta aquela em que queremos ir.”

A campanha organizou-se nos dois campos com determinação. Os que defendiam a saída estão convencidos que a Grã-Bretanha será mais forte e mais rica sem a Europa; os que queriam continuar agitavam a ameaça de uma catástrofe económica e contavam com o apoio dos grandes líderes internacionais, cujas declarações se sucediam:

Donald Tusk: “Eu acredito profundamente que ao Reino Unido precisa da Europa e a Europa precisa do Reino Unido”.

Jean-Claude Juncker : “Eu sempre disse que quero que o Reino Unido permaneça na União Europeia, na base de um acordo justo”.

François Hollande: “Eu não queria lançar receios, mas deizer apenas a verdade: vai haver consequências se o Reino Unido deixar a União Europeia”.

E até Barack Obama : “Os Estados Unidos querem um Reino Unido forte como parceiro. E o Reino Unido está no seu melhor quando ajuda a liderar uma Europa forte”.

Ainda que muito viva, a campanha manteve-se controlada até ao drama ocorrido poucos dias antes do escrutínio: a deputada trabalhista, Jo Cox, que fazia campanha pela manutenção do país na União Europeia, foi assassinada em plena rua, por um homem que terá gritado: primeiro a Grã-Bretanha. Um assassinato que indignou o país e a Europa.

Durante alguns dias, a campanha foi suspensa e as intenções de voto contra o Brexit subiram. Pensou-se, então, que o drama teria feito pender a balança a favor dos que queriam ficar. No dia 23, dia do voto, ninguém acreditava no cenário da saída.
O anúncio dos primeiros números foi um choque! Cerca de 52% dos britânicos decidiram abandonar a União Europeia, que conhece a primeira deserção após varias vagas de alargamento.

O campo do Brexit exulta de alegria. Na ressaca, com o navio à deriva, os dois corajosos comandantes, saltam. Nigel Farage, considerando a sua missão cumprida, abandona a política; Boris Johnson recusa o cargo de primeiro-ministro deixado vago por David Cameron, que declarou após o voto:
“Não penso que fosse correto eu ser o comandante que conduz o nosso país para o próximo destino”.

Ainda em choque, Cameron desloca-se alguns dias mais tarde a Bruxelas para a cimeira europeia extraordinária convocada após o referendo. Começa então o longo processo de divórcio entre Londres e Bruxelas. Um processo dirigido agora por Theresa May, escolhida pelos conservadores e que defende uma saída “harmoniosa e ordenada”

Mas, por onde começar?
Neste final de ano de 2016, ainda é cedo para prever as consequências na Europa da perda deste membro e na Grã-Bretanha dividida da desta navegação solitária. O ano de 2017 vai certamente ouvir falar dos descontentes que continuam a manifestar-se.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Unionistas terminam bloqueio: parlamento da Irlanda do Norte pode retomar atividade no fim de semana

Batalha legal contra as "prisões" temporárias de requerentes de asilo em Inglaterra

Marcha pela reintegração do Reino Unido na União Europeia