O Irão escolhe o novo presidente no dia 19 de maio.
O Irão escolhe o novo presidente no dia 19 de maio. Na corrida ao cargo de chefe de Estado está o antigo presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Esta guerra levará à queda da hegemonia dos EUA.
Ex-presidente do Irão
A sua reeleição, nas eleições de 2009, desencadeou a maior onda de protestos desde a revolução de 1979.
A candidatura de Ahmadinejad tem de ser, ainda, aprovada pelo Conselho dos Guardiões, um órgão jurídico que analisa se as candidaturas estão em conformidade não só com a Constituição do país mas também com as leis religiosas.
O antigo presidente enfrenta, agora, a oposição do Ayatollah Ali Khamenei que aconselhou o antigo presidente a não se candidatar.
A euronews conversou com Mahmoud Ahmadinejad.
euronews: Senhor Amadinejad, obrigado por conceder esta entrevista à euronews.
Começo por perguntar: que mudanças vê entre o Irão, durante a sua presidência e o Irão de agora?
Mahmoud Ahmadinejad: Gostaria de, em nome de Deus, saudar os tele-espetadores.
Há muitas diferenças entre esse tempo e agora. O mundo está em constante mudança.
Não há dois dias iguais na vida de um indivíduo, a mesma regra aplica-se a uma nação e a um país. No entanto, não creio que tenhamos ficado mais fortes tanto politica como economicamente.
e: Um dos problemas, durante sua presidência, foi a implementação das sanções internacionais que dificultaram a economia do país. Após o acordo nuclear, diz-se que muitas dessas sanções foram levantadas e que esses problemas estão a ser resolvidos. Qual é a sua opinião sobre o acordo nuclear?
MA: É um acordo legal que foi assinado entre o Irão e vários países. No Irão, foi aprovado por instituições oficiais e o Líder anunciou ter-se comprometido com ele. Portanto é, agora, um documento legal.
Mas em relação às expectativas que foram criadas nas entrevistas sobre o acordo nuclear e no que foi dito sobre o assunto…
Foi apresentado como se fosse resolver todos os problemas do mundo e que todas as sanções das Nações Unidas assim como as sanções unilaterais e coletivas que, ilegalmente, foram impostas ao Irão, seriam levantadas e que as relações seriam sanadas.
Na minha opinião, a forma como as informações foram dadas estava incorreta. A nação não recebeu a informação correta. Depois vimos que o que foi dito não se materializou.
As sanções continuaram, foram impostas novas sanções e algumas foram prorrogadas. O acordo não previu a capacidade de acompanhamento legal.
Penso que, onde quer que seja no mundo, quando acordos a tão alto-nível são alcançados, as pessoas devem ser informadas, corretamente, e deviam ser questionadas sobre a sua opinião pois, no fim de contas, são elas que vão ser afetadas por esses acordos.
Mas a Agência Internacional de Energia Atómica está a dizer que os iranianos cumpriram todos os compromissos, mas alguns dos compromissos assumidos pelo outro lado ainda não foram cumpridos e penso que deveriam cumpri-los.
e: Gostaria de perguntar-lhe qual a razão para avançar como candidato às eleições presidenciais, para um terceiro mandato?
Há uns tempos, o líder iraniano, o Ayatollah Ali Khamenei, aconselhou-o a não participar nas eleições. Depois disso, o senhor enviou-lhe uma carta e anunciou, formalmente, que não planeava concorrer. Por que mudou de ideias? Algumas pessoas veem isso como um diferendo entre si e o Ayatollah Khamenei. O que diz sobre isso?
MA: É dever de cada indivíduo participar nos assuntos sociais. Não podemos dizer a alguém: “não participe”. Há liberdade no Irão. Todos aqueles que têm uma ideia e um plano podem participar e colocar-se à prova, submetendo-se à votação do povo.
Qualquer um que pense que ele ou ela pode fazer algo, ou pode fazer melhor, ou tem um plano melhor para o país, então pode avançar. E eu não sou exceção.
Como anunciei, no dia em que me inscrevi, o Líder da Revolução não emitiu uma ordem, deu o seu conselho dizendo que não dizemos às pessoas para se candidatarem ou não. Além disso, a situação mudou totalmente. Não existe mais uma situação bipartidária. É, agora, multipartidária. De qualquer forma, anunciei, no dia da inscrição, que entrei na cena eleitoral para apoiar o meu amigo e irmão Baghaei (Hamid Baghaei, ex-vice-presidente de Ahmadinejad)
e: Espera que a sua candidatura seja aprovada pelo Conselho dos Guardiões?
MA: Não há razão para que não seja. Porquê? Porque não?
e: O líder apoiou, claramente, a sua candidatura nas eleições de 2009. Parece que agora não tem o mesmo apoio que tinha naquela época. Como comenta isso?
MA: Ele apoiou todos os governos. Apoiou, também, o governo atual.
Se não fosse o seu apoio, o atual governo não teria sido capaz de assinar o acordo nuclear ou avançar com os seus planos.
e: A minha próxima pergunta é: O que pensa do facto de os seus dois principais rivais, nas eleições de 2009, estarem sob prisão domiciliária oito anos após o escrutínio?
MA: Já disse antes: eu não gosto que ninguém, em qualquer lugar do mundo, esteja detido ou preso. Não gosto.
e: Essa resposta é suficiente?
MA: Pediu a minha opinião e eu disse-lhe que não gosto. É essa a minha opinião.
e: Nos comentários dos “media”, assim como em alguns círculos políticos, diz-se que o seu pedido de candidatura, tal como o do senhor Baghaei, o seu vice-presidente no governo anterior, será apenas para obter algum tipo de imunidade contra determinados casos políticos e económicos.
Como responde a esses críticos?
MA: Tenho uma observação geral para dizer a todos os políticos do mundo: para se envolverem na política, têm de ser honestos, estar comprometidos com os valores humanos e com a moralidade.
Recorrer a outros meios, na política, vai arruinar o trabalho. Mentir, acusar, espalhar rumores, é tudo muito mau. Temos rivais dentro do país que não sabem fazer mais nada além de minar. Eles, simplesmente, fazem acusações sem sentirem a necessidade de apresentar qualquer prova. Felizmente, graças a Deus, tais provas não foram apresentadas pois, simplesmente, não existem.
A vida do Sr. Baghaei foi escrutinada da maneira mais severa possível. Muitos grupos, de diferentes instituições, analisaram o seu perfil, mas não encontraram nada. No entanto, existem algumas pessoas que pensam que, ao repetir informações falsas, podem fazer com que pareça real para a sociedade.
Não existe nenhum processo. Muitas pessoas podem ter processos contra elas. Não é difícil interpor um processo contra alguém. É necessário, simplesmente, apresentar uma queixa e obter um número de registo e, então, inicia-se um processo legal.
Mas aqueles que alegaram isso, não foram capazes de provar nada contra mim, contra o Sr. Baghaei ou contra os meus amigos, nem nunca serão capazes de fazê-lo.
e: Veio da fação ultraconservadora, mas hoje…
MA: O que quer dizer com fação ultraconservadora?
e: É a fação que se autodenomina…
MA: Não é assim. A fação ultraconservadora não me apoiou em tudo. Eu já tinha estado em contacto com diferentes politólogos e pessoas como eu. Mas se, por ultraconservador, você quer dizer estar comprometido com um conjunto de princípios, então pode dizer isso, com certeza. Defendo um conjunto de princípios e valores humanos e não estou disposto a abandoná-los por causa de rivalidades políticas. Além disso, o meu objetivo é melhorar a situação do povo, do país e do mundo.
e: Como avalia a sua popularidade no seio da sociedade?
MA: Temos um bom relacionamento com as pessoas. Se tratarmos bem as pessoas, as pessoas retribuem.
e: Quero dizer, uma vez que consiga passar pelo Conselho dos Guardiões, será bem recebido pelas pessoas…
MA: Sim, as pessoas vão receber-me muito bem, certamente.
e: Enviou uma carta a Donald Trump depois de ele ter sido eleito Presidente dos Estados Unidos.
O que estava na carta? Recebeu alguma resposta?
MA:Não leu a carta?
e: Sim mas quero ouvi-lo de si…
MA: Bem, os pontos da carta são claros. O Sr. Trump fez algumas reivindicações e fez algumas promessas. Relembrei-o das suas promessas e expliquei-lhe como cumpri-las. Fiz isso como um dever humano. Todos nós temos esse dever, de lembrar o outro. Fiz isso como um dever humano. Não importa se ele aceita ou não. Fiz o meu dever. Disse-lhe qual era o caminho certo e qual era o errado.
e: E ele respondeu?
MA: Não espero que ele responda pois trata-se de diplomacia pública e a diplomacia pública não exige resposta exclusiva. A ideia é dirigir-se a toda a humanidade, mas nomeando apenas uma pessoa.
e: Sobre a situação na Síria, após o recente ataque com mísseis norte-americanos. Acredita que estes desenvolvimentos, na Síria, estão a caminhar para onde?
MA: Penso que o Sr. Trump escolheu o caminho da guerra, apesar das promessas que fez ao seu povo. Já disse isso antes e volto a dizer: esta guerra levará, certamente, à queda da hegemonia global dos Estados Unidos da América.
Tenho muitas razões para isso e posso explicá-las em outra oportunidade
O Irão, os Estados Unidos, a Rússia, a Arábia Saudita, a Turquia… Temos todos que dar as mãos para trabalharmos, em primeiro lugar, para a segurança, o diálogo e a paz na Síria; em segundo lugar, para ajudar a cumprir a vontade e a soberania do povo sírio. Temos que respeitar a soberania síria e deixar o povo da Síria escolher o que quer. Devemos aceitar a escolha dele. Ninguém, ninguém está acima do povo da Síria, ninguém.
e: Após o fim do seu mandato no executivo, como ocupa o tempo livre?
MA: Eu estudo, ensino na universidade, há investigações para fazer. Faço investigação no meu próprio campo de especialização e, também, em estudos políticos, económicos e internacionais. Uma parte considerável do meu tempo é dedicada a encontros com pessoas comuns, bem diferentes das personalidades nacionais e internacionais. Faço exercício, viajo e divirto-me, também.