"Capitão de Abril" revela à euronews como foi preparado o golpe militar que mudou o rumo de Portugal.
Foi um dos dias mais importantes da história de Portugal no século XX. A 25 de abril de 1974, caía a ditadura. O golpe militar estava em preparação há muitos meses, por um grupo de oficiais do quadro das Forças Armadas descontentes com a situação do país. Na primeira pessoa, Vasco Lourenço, um dos elementos do Movimento dos Capitães, contou-nos a evolução dessas reuniões: Tudo começou em 1973, com a proibição aos militares do quadro contrários à guerra do Ultramar de se deslocarem ao Congresso dos Combatentes no Porto, que acabaria por ser anulado. Pouco a pouco, germinava a ideia de um golpe militar, avançada num encontro em Óbidos no fim desse ano.
Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo
in 'O Nome das Coisas'
A aprovação final viria na famosa reunião de Cascais, a 5 de março de 1974: "Houve três grandes conclusões saídas dessa reunião. A primeira foi que se avançaria com o golpe, a segunda que o golpe seria antecedido pela elaboração de um programa político e a terceira que os dois generais a contactar, depois de assegurado o sucesso da operação, para que assumissem a liderança do movimento, seriam os generais Costa Gomes e Spínola", conta Vasco Lourenço.
O regime sabia que havia algo em preparação e estava a par das reuniões do Movimento dos Capitães. No entanto, para ganhar tempo, foi posto a circular o boato de que o golpe só aconteceria depois do Primeiro de Maio, dia do trabalhador, data em que acontecia sempre a prisão de vários opositores. Na verdade, tudo estava a ser planeado para que o dia decisivo acontecesse pouco antes dessa data, imperativamente numa terça, quarta ou qunta-feira.
"Operação Viragem Histórica"
Para dificultar a possibilidade de um golpe militar, Vasco Lourenço e vários outros oficiais, entre eles Melo Antunes, acabariam transferidos de Lisboa para outros pontos do país, nomeadamente para os Açores, onde ambos se encontravam a 25 de abril. Otelo Saraiva de Carvalho substitui-o como comandante operacional e Lourenço não tem outra opção senão acompanhar tudo pela rádio, no dia da que foi batizada "Operação Viragem Histórica" (também conhecida como "Operação Fim-Regime").
"Foram os minutos mais longos da minha vida, só comparáveis ao nascimento da minha filha e neto", conta Vasco Lourenço. "Apanhei, na rádio, o comunicado do MFA a meio e não conseguia perceber se vinha do nosso campo ou do campo contrário. Só quando a música terminou e repetiram o comunicado do início e ouvi 'Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas' percebi que tínhamos triunfado. Aí comecei aos saltos e a gritar vitória".
"Um poeta disse uma vez que um homem, para se sentir realizado, deve escrever um livro, plantar uma árvore e ser pai. Eu fiz essas três coisas e sinto-me ainda mais realizado, porque fiz uma quarta: Participei no 25 de Abril", conclui.