Os "sonhos" europeus de países dos Balcãs

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O primeiro-ministro albanês e o Presidente da Sérvia falaram, em entrevista à Euronews, sobre expectativas e desafios

A Albânia é juntamente com a Antiga República Jugoslava da Macedónia um dos países que teve a "luz verde" da Comissão Europeia para começar as negociações de adesão à União Europeia (UE).

Esta quinta-feira têm o primeiro teste de resistência com os 28 Estados-membros para discutir todas as questões em aberto durante a cimeira dos Balcãs Ocidentais, em Sófia.

Estivemos em Tirana, a capital albanesa, à conversa com o primeiro-ministro do país. Edi Rama falou sobre expectativas e desafios.

Efi Koutsokosta, Euronews - Sérvia e Montenegro, que estão à cabeça para integrar a União Europeia, poderão aderir ao bloco em 2025. É uma data indicativa. Quando espera que o mesmo aconteça à Albânia?

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Atualmente a Sérvia e Montenegro estão a negociar. É por isso que se encontram à nossa frente neste processo. 2025 é um horizonte em que todos podemos estar prontos se nos empenharmos e fizermos o nosso trabalho.

Efi Koutsokosta, Euronews - Precisa de uma data para encorajar o povo a seguir as reformas necessárias?

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Não. Precisamos de abrir as negociações em junho. É tudo. Não queremos mais nada. Apenas abrir as negociações. Para a Europa não custa nada. Não pagarão nem um cêntimo por isso. Para nós é uma questão de vida ou de morte no sentido em que abrir as negociações significa que estamos, finalmente, no futuro, fora do passado.

Efi Koutsokosta, Euronews - Há outros desafios que a União Europeia está a colocar. Jean-Claude Juncker disse recentemente que ainda existe crime organizado e que não quer importar este tipo de situações para a Europa.

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Antes de mais não estávamos à espera que o Presidente Juncker ou qualquer outra pessoa de fora nos dissesse que ainda há uma grande luta a travar com o crime organizado, corrupção e muitas outras coisas. A questão é simples. Fizemos o trabalho de casa para abrir as negociações. A máquina da Comissão, que é bastante pesada e com peritos que lidam com factos e não com notícias falsas, deu-nos uma recomendação positiva, sem condições. Mas daí a dividir os países entre nações com crime e sem crime parece um pouco rebuscado. Se existe crime organizado europeu é uma prática interconectada e temos de combatê-la juntos.

Efi Koutsokosta, Euronews - Falando dos desafios internos da Albânia gostaria de abordar uma questão sensível para a União Europeia que é a liberdade de imprensa. Um relatório recente da organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras fala de jornalistas, que 80% se sente inseguro em relação ao futuro, que estão "expostos a insultos" por Edi Rama que disse que os jornalistas "são lixo, veneno e o inimigo público." É esta a opinião que tem dos jornalistas da Albânia?

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Nunca tento recusar diretamente o que os meios de comunicação social podem dizer, mas quando digo "lixo" é uma forma de dizer em albanês "fake news" porque não existe uma tradução perfeita em albanês. Por isso, nunca insultei pessoalmente um jornalista. Claro que expresso a minha opinião sobre meios de comunicação de lixo e temos muito lixo atualmente. Se têm o direito de expressar a opinião não significa que não tenha o direito de expressar a minha.

Efi Koutsokosta, Euronews - Mas o mesmo relatório diz também que "os padrões reguladores são manipulados pelos interesses do Governo."

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Não é um disparate, mas não quero falar sobre isso. É sempre suspeito quando se ouve um primeiro-ministro, Presidente ou político dizer que os meios de comunicação social estão a mentir. Mas atualmente mentem muito. Isso é um problema. Respeito muito a solidariedade entre os meios de comunicação, a ONG Repórteres sem Fronteiras ou quem quer que seja. Fazem o trabalho deles. Eu faço o meu.

Efi Koutsokosta, Euronews - Sabemos que existem muitas minorias albanesas em outros Estados. Entende-se como líder dos albaneses ou não?

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - De acordo com a nossa Constituição temos obrigação de proteger os albaneses lá fora mas ao mesmo tempo penso que os albaneses nunca estiveram tão bem como agora. No Kosovo têm o próprio estado. Na Macedónia são parte de uma revolução real em termos de mudança de abordagem em relação à língua e ao povo albaneses. No sul da Sérvia, espero que melhorem as condições, também com base no facto de que os sérvios no Kosovo são bastante bem tratados.

Efi Koutsokosta, Euronews - Mas sugeriu recentemente que poderia existir um líder conjunto com o Kosovo, um dia. Isto criou muitas reações.

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Lamento as reações, mas a declaração não foi feita para criar ondas. Foi dita para ser um ideal. Numa circunstância especial do décimo aniversário da independência do Kosovo e para o parlamento kosovar. Há duas décadas atrás disse que estava fora de questão. Se alguém falasse da independência do Kosovo, abalava o mundo. Hoje as coisas são diferentes mas quem sabe o que acontecerá em 20 anos? Antes de dizer "porque não ter um Presidente para ambos" disse que o diálogo com a Sérvia terminaria com sucesso, que albaneses e sérvios seriam membros da União Europeia. Houve muitas pré-condições para chegar ao ponto de um Presidente de ambos os países.

Efi Koutsokosta, Euronews - Lamenta agora essa declaração?

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Não.

Efi Koutsokosta, Euronews - Mas exclui o projeto de unificação dos albaneses no futuro?

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Não. Disse sempre que o meu sonho é unificar sob o céu da União Europeia. Nunca sonhei uma grande Albânia porque tenho um sonho maior. O de uma grande Europa, com os albaneses dentro.

Efi Koutsokosta, Euronews - Há a opinião de que é natural que se tenha reavivado o projeto de alargamento da União Europeia porque houve muita presença dos russos, dos turcos e dos chineses na região. Acredita que estes países podem usar esta região para destabilizar a União Europeia?

Edi Rama, primeiro-ministro da Albânia - Sim. É espaço que alguém tem de preencher. E é um espaço que pertence à Europa e à UE. Por isso a União Europeia deveria assumir a responsabilidade por este espaço, estrategicamente. Porque se existir espaço livre haverá sempre outros que quererão chegar lá e preenchê-lo.

De Tirana para Belgrado. A Sérvia negoceia oficialmente a adesão à União Europeia desde 2014. Espera consegui-lo em breve mas permanecem contendas vindas do passado. Estarão prontos para um grande compromisso? O Presidente sérvio Aleksandar Vučić manifestou-se em entrevista à Euronews.

Sándor Zsíros, Euronews - Há dois anos falou à Euronews e disse que o país que representa está cansado de esperar pela adesão à UE. Como se sente antes da cimeira de Sófia?

Aleksandar Vučić, Presidente da Sérvia - Durante estes dois anos tivémos outra queda de popularidade da UE na Sérvia, mas continuamos a ter a maioria da população do nosso lado. As pessoas não estão em êxtase com isso, mas dizem racionalmente que estão no caminho da União Europeia.

Sándor Zsíros, Euronews - Se olharmos para a proposta orçamental da Comissão Europeia não há indicação de que novos países se devam juntar ao bloco até 2027. Na sua perspetiva quando é que a Sérvia pode realmente juntar-se à União Europeia?

Aleksandar Vučić, Presidente da Sérvia - Antes de mais penso que alguém jamais nos garantiu que faríamos parte da União Europeia até 2025. Mas falaram-nos em apresentar resultado. É principalmente por causa do acordo com o Kosovo, se resolvermos o nosso problema com Pristina. E depois tudo o resto, incluindo o estado de direito e tudo o que nos pediram para fazer. Depois de tudo isso podemos tornar-nos um Estado-membro da UE em 2025. Estamos na trajetória europeia desde 2000. Já passaram 18 anos. É por isso que as pessoas se sentem exaustas, mas de qualquer forma não há soluções melhores. Faremos o nosso trabalho. Faremos grandes esforços para tentar encontrar uma solução para a crise no Kosovo.

Sándor Zsíros, Euronews - Como será na realidade esta normalização entre Pristina e Belgrado? Em particular quando se olha para o facto de que na semana passada a equipa de karaté kosovar foi interditada na Sérvia, impedida de entrar.

Aleksandar Vučić, Presidente da Sérvia - Atuámos de maneira correta. Deixámo-los entrar, mas sem bandeiras do Kosovo. Porque para nós não são um Estado. Não só para nós. Acordámos que viriam sem bandeiras e que também não haveria bandeiras da Sérvia e de outros países. Era possível, sem hinos nacionais. Responderam que não aceitavam. Porque queriam ser interditados.

Sándor Zsíros, Euronews - Olhando de fora é o mesmo tipo de provocação que aconteceu no ano passado, quando a Sérvia enviou um comboio para o Kosovo com uma grande bandeira e um cartaz a dizer que o Kosovo é a Sérvia. Não é o mesmo? Provocações mútuas?

Aleksandar Vučić, Presidente da Sérvia - Não há provocações mútuas. Se analisar quando nos diz que o Kosovo é um Estado independente trata-se de uma grande provocação contra a Sérvia. E pensar que mesmo o seu país reconheceu a independência do Kosovo é uma grande provocação. Deveria considerá-lo um provocador? Apenas porque tem uma opinião diferente da nossa sobre o estatuto legal do Kosovo. Respeitamos o facto de pensarem de forma diferente da nossa. Essa é a diferença. Ainda pensa que foi uma provocação que alguém tenha escrito que o Kosovo é a Sérvia. Eu penso que o Kosovo é a Sérvia. Estarei a provocá-lo? Vai prender-me? Matar-me? Se é uma grande provocação. Ao mesmo tempo estou pronto para falar de compromisso. Fazer o máximo de concessões possível. Mas não humilhar o povo sérvio. E sem minar o interesse da Sérvia.

Sándor Zsíros, Euronews - Porque é que a Sérvia não está a aplicar sanções económicas contra a Rússia? Como país candidato deveria seguir as decisões do Conselho Europeu.

Aleksandar Vučić, Presidente da Sérvia - Consegue imaginar-nos a impor sanções à Rússia. Juntamente com a China, a Rússia é o único país que nos apoia no Conselho de Segurança das Nações Unidas quando falamos da integridade territorial da Sérvia. O que espera de nós? Que cortemos as pernas? E que depois digamos: ok, agora está tudo bem. E que sublinhemos: sim, quando referimos que o Kosovo é a Sérvia trata-se de uma grande provocação. Mostra que mesmo o senhor não pensa que deve ser neutro em relação ao estatuto do Kosovo. Apesar de haver cinco países da União Europeia que não reconhecem a independência do Kosovo. Porque não lhes diz que provocam diariamente a Europa.

Sándor Zsíros, Euronews - O jornal "The New York Times" disse que a Sérvia se aproxima da autocracia. E a revista Foreign Affairs disse que o senhor é o autocrata favorito da Europa, que garante estabilidade.

Aleksandar Vučić, Presidente da Sérvia - Essa revista e jornal não disseram isso. Foi dito pelos sérvios, pelos meus adversários políticos que escreveram esses artigos.

Sándor Zsíros, Euronews - Então a Sérvia pode cumprir os critérios de Copenhaga?

Aleksandar Vučić, Presidente da Sérvia - Estaremos prontos para discutir todos os problemas sentidos pelas pessoas. Ouvi dizer que na Sérvia acontecerão ataques terríveis, assassinatos, mas aconteceu na Eslováquia, em Malta, Montenegro, recentemente. Até ao momento não aconteceram na Sérvia. Ouviu alguma coisa sobre estes casos na Sérvia? Não. E não ouvirá. Também estou certo de que precisamos de fazer alguma coisa porque parte da nossa sociedade civil e da informação não está satisfeita por algumas razões. Estou pronto para ouvi-los e para ver o que podem fazer para superar este tipo de opiniões diferentes. Para ver o que podemos fazer para nos sentarmos juntos e tentar encontrar a melhor solução possível para todos. Mas, por favor, compre os jornais de amanhã e diga-me se há alguém que seja mais atacado do que eu mesmo?

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