Um acervo fundado por D. João VI há 200 anos e agora em cinzas

As ruínas do Palácio de São Cristóvão, a "casa" do Museu Nacional do Brasil
As ruínas do Palácio de São Cristóvão, a "casa" do Museu Nacional do Brasil Direitos de autor REUTERS/Ricardo Moraes
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De  Francisco Marques
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O Museu Nacional do Brasil tinha mais de 20 milhões de peças, incluindo o fóssil humano mais antigo das Américas, mas estava decadente e com cada vez menos apoios públicos

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O crânio de Luzia, tido como o mais antigo fóssil humano das Américas, com mais de 11 mil anos, terá sido uma das peças mais valiosas consumidas pelo incêndio deste domingo no Museu Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.

Havia porém muitos mais tesouros, inclusive o edifício, o Palácio de São Cristóvão onde foi assinada a independência do Brasil e que chegou a ser residência do "Rei João VI, de Portugal, do Brasil e dos Algarves."

O mais antigo museu de história natural e antropológica da América Latina era um dos ex-líbris "cariocas", mas o número de visitantes vinham a decair desde há cinco anos.

Dos mais de 275 mil de 2013 e 2014, no ano passado os visitantes do Museu Nacional passaram ligeiramente dos 180 mil e este ano, até abril, não iam além dos 55 mil, embora com expectativa de um acentuado aumento após a celebração dos 200 anos do museu e uma prometida recuperação do edifício.

A história do museu começa em 1818 quando D. João VI o inaugurou num outro local do Rio de Janeiro.

O acervo da antiga Casa de História Natural do Brasil viria a mudar-se para o Palácio de São Cristóvão no final do século XIX.

Nas mãos da Universidade Federal do Rio de Janeiro há sete décadas, o agora Museu Nacional do Brasil atravessava um período polémico.

O palácio estava decadente e faltavam meios de prevenção de acidentes. O restauro e a modernização do edifício eram urgentes, mas os sucessivos cortes nos apoios públicos e o desvio do investimento para o novo Museu do Amanhã "condenaram" o museu do passado.

Dos 110 mil euros de apoio estatal de 2013, o jornal Folha de São Paulo dava conta em maio de que no ano passado o Museu Nacional terá recebido apenas 72 mil euros. E este ano, até abril, teria recebido apenas 11 mil.

As opções do governo são agora apontadas como uma das causas do fogo que terá consumido uma boa parte dos mais de 20 milhões de objetos de valor ainda por calcular.

Por alturas do recente duo centenário, a direção do museu, nas mãos de Alexander Kellner desde fevereiro, acertou entretanto um novo acordo de patrocínio avaliado em 4,5 milhões de euros com o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social.

Os fundos destinavam-se sobretudo à recuperação física do palácio e a modernizar alguns dos espaços. Ninguém previa o que aconteceu.

O fogo deixou o palácio em ruínas. Agora será preciso muito mais para recuperar apenas uma pequena parte da história da América Latina, do Brasil e da humanidade.

O presidente Michel Temer já reagiu à tragédia, que considerou "uma perda incalculável" para o Brasil e esta segunda-feira reuniu-se com o ministro da Cultura para analisar formas de assegurar o financiamento necessário para a recuperação do museu.

Editor de vídeo • Francisco Marques

Outras fontes • Globo, Folha de São Paulo

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