"Ser açoriano é ser um herói", diz escritor e etnólogo francês Jean-Yves Loude

"Ser açoriano é ser um herói", diz escritor e etnólogo francês Jean-Yves Loude
De  Ricardo Figueira
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"Un cargo pour les Açores", que conta as histórias da gente e da cultura do arquipélago, foi apresentado em França. A tradução portuguesa está a ser negociada.

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Os Açores são o destino desta nova viagem do Sr. Leão, personagem ou talvez alter-ego do etnólogo e escritor francês Jean-Yves Loude. Entre o ensaio e a ficção, "Un cargo pour les Açores" (em português, "Um cargueiro para os Açores") parte de uma viagem em que Loude recria a feita por Raúl Brandão, nos anos 20 do século passado, a bordo de um cargueiro.

Procurou os segredos das ilhas, nas palavras do próprio, como se se tratasse de uma investigação policial.

Conta o escritor:

"Quis conhecer a cultura, a identidade dessas pessoas e dos descendentes daqueles que foram deixados no meio do Atlântico, submetidos a uma natureza muito bela, mas também muito versátil. Uma natureza com duas caras. Um dia faz muito sol, no dia seguinte há intempéries muito difíceis de aguentar.

Para mim, os Açores são o arquipélago dos heróis anónimos. Sempre que perguntava quem eram os heróis universais dos açorianos, respondiam que tinham alguns - o compositor Francisco de Lacerda, o primeiro Presidente da República Portuguesa... Mas na verdade são todos heróis. Basta nascer nos Açores para se ser um herói.

Na minha viagem, um dos maiores sonhos era conhecer os últimos arpoadores de baleias. São pessoas que me fascinam. Chamam-lhe a 'tourada do mar'. O barco, pequeno, com apenas sete homens, face ao monstro mais belo, mas ao mesmo tempo o maior de toda a criação.

Os seis remadores remavam de costas para a baleia, o único que a via era o mestre e era ele que dava ordem ao trancador, ao arpoador, no último momento, de lançar o arpão. Tiro o chapéu a estes homens, os baleeiros.

Procurei os heróis por todo o lado. Francisco de Lacerda interessa-me muito. Na ilha de São Jorge, nasceu um dos maiores maestros da música europeia. Deixou esta pequena ilha, a pequena aldeia onde vivia para se tornar um prodígio em Lisboa e daí seguiu para Paris, no início do século XX. Foi aí que lhe reconheceram as qualidades de diretor de orquestra e se tornou um ídolo. Era uma celebridade em França, nessa altura.

Fui procurar a casa onde viveu, que está em ruínas e tentei imaginar como levaram o piano até lá, um pouco como no filme 'O piano', de Jane Campion. Sem dúvida que chegou por mar e foi descarregado nos rochedos. Adoro a forma como os Açores nos fazem imaginar a realidade das épocas passadas".

Terá sido assim, como neste filme, que o piano de Lacerda chegou a São Jorge...

"Un cargo pour les Açores" foi publicado pelas edições Actes Sud. É o sexto livro de uma série dedicada ao mundo lusófono, uma viagem que começou há mais de 20 anos em Cabo Verde. Vários desses livros estão já traduzidos para português, incluindo "Lisboa na cidade negra", editado pela Dom Quixote. A edição portuguesa do novo livro está a ser negociada.

Nome do jornalista • Ricardo Figueira

Editor de vídeo • Ricardo Figueira

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