Embaixador dos EUA em Berlim enviou carta em que refere que o facto de colaborarem em projetos com a Rússia as sujeita a sanções da parte de Washington. Berlim não gostou.
O embaixador dos Estados Unidos na Alemanha avisou as empresas que participam na construção do gasoduto ou pipeline Nord Stream 2 que poderão enfrentar sanções da parte de Washington, caso tenham a intenção de continuar no projeto, avaliado em mais de 10 mil milhões de euros.
Richard Grenell, embaixador dos EUA, referiu, na carta oficial enviada às empresas, que qualquer companhia a operar no setor de exportação de energia russa através de pipelines poderá enfrentar sanções.
A resposta não se fez esperar no seio do Governo alemão. Para Berlim e para os aliados Europeus, Washington tenta usar as leis internas, que visam aplicar sanções a países que os norte-americanos consideram como uma ameaça, como ferramenta para influenciar a política energética fora do seu território.
Heiko Mass, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, disse, na passada quinta-feira, que possíveis sanções da parte dos Estados Unidos relacionadas com o gasoduto, eram uma "decisão errada" e que todas as questões relacionadas com a política energética europeia deveriam ser decididas "na Europa e não nos Estados Unidos".
À agência Reuters, um diplomata alemão disse que a forma como o embaixador dos EUA lidou com a situação não corresponde às "boas práticas da diplomacia."
A mesma fonte afirmou à agência que Berlim tinha a intenção de falar diretamente com a Administração Trump, em Washington DC.
Um "ato de chantagem"
A notícia foi revelada pelo jornal alemão Bild Am Sonntag, para quem a carta enviada pelo embaixador dos EUA em Berlim é "uma forma de chantagem" da parte dos norte-americanos, o que foi negado pela embaixada.
Recentemente, o presidente Donald Trump acusou a Alemanha de viver como "refém de Moscovo," por causa da sua alegada dependência da energia russa.
O projeto Nord Stream 2 tem como objetivo o transporte de gás entre território russo e a Alemanha, via Mar Báltico, sendo de extrema importância para vários países europeus.
O projeto é fruto da cooperação entre a energética russa Gazprom e companhias europeias como a Shell, a Uniper, a Engie, a Wintershall e a OMV.
Por outro lado, poderá ser mau para a Ucrânia, já que Kiev pode vir a perder os lucros relacionados com a taxas cobradas pelos gasodutos que passam pelo seu território.
E é exatamente por causa da Ucrânia que Moscovo e Berlim se distanciaram nos últimos anos, nomeadamente no que à questão da Crimeia diz respeito. O que a União Europeia define como uma anexação, é visto pela Rússia como cumprimento do direito de autodeterminação dos povos.
Mas alemães e russos partilham um interesse: o gasoduto Nord Stream 2, que deverá duplicar a capacidade de transporte de gás em relação ao Nord Stream 1.