O pirata informático foi capturado esta semana em Budapeste, na Hungria, mas os advogados alegam que ele é um denunciante que deve ser protegido devido às irregularidades já reveladas
Foi capturado em casa, na Hungria, após duas semanas de vigilância policial e está já com o processo de extradição para Portugal em curso, o pirata informático português com ligação confessa ao caso "Football Leaks."
Rui Pinto, de 30 anos, era alvo de um mandado europeu de captura e em Portugal é o principal suspeito do roubo de correspondência privada do Benfica, de onde surgiram indícios de alegadas irregularidades por parte do clube, e da empresa Doyen, que tinha direitos sobre diversos futebolistas e contratos suspeitos com alguns clubes.
Terá sido uma queixa-crime da Doyen que motivou o mandado de detenção europeu contra Rui Pinto.
À euronews, a polícia de Budapeste confirmou o andamento do processo transnacional.
"Os meus colegas levaram o suspeito sob custódia para a sétima esquadra distrital da polícia, detiveram-no e o processo de extradição está a correr", afirmou Melinda Hegyesi, porta-voz da polícia de Budapeste.
Alvo de várias suspeitas devido aos emails entretanto revelados sobretudo pelo diretor de comunicação do FC Porto, o Benfica tem tentado implicar os mais diretos rivais desportivos, incluindo o Sporting, como os financiadores do roubo da correspondência que implica o emblema da Luz, cujo ex-assessor jurídico Paulo Gonçalves vai entretanto ser julgado por 29 crimes no âmbito do processo "e-Toupeira."
FC Porto e Sporting já reagiram à tentativa do Benfica. Os portistas garantem ter tido acesso aos "e-mails" comprometedores sem ter pago por eles e os "leões" apenas estranham que os benfiquistas, com tantas posições públicas sobre o alegado roubo de correspondência de que dizem ter sido vítimas, ainda não explicaram as irregularidades de que foram acusados e que não desmentiram.
A polícia judiciária (PJ) fala de reincidência do "hacker", que vinha a ser investigado no âmbito da operação Cyberduna.
"Há uma continuação da prática criminosa que se tem vindo a revelar perniciosa para algumas instituições, até para instituições do Estado", afirmou Caros Cabreiro, o diretor da Unidade Nacional de combate ao Cibercrime da PJ.
Os advogados de Rui Pinto já reagiram à detenção, colocam o cliente no âmbito dos denunciantes lançadores de alertas a quem é concedida proteção especial e prometem tentar bloquear a extradição para Portugal.
"O Sr. Rui Pedro Gonçalves Pinto tornou-se num importante denunciante europeu no âmbito dos chamados 'Football Leaks', relembrando-se que muitas revelações feitas ao abrigo destas partilhas de informação estiveram na origem da publicação, durante vários anos, de notícias que deram lugar à abertura de muitas investigações em França e noutros países europeus", lê-se num comunicado emitido dos advogados William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota.
Os juristas alegam que, ao longo deste processo, Rui Pinto “foi seriamente ameaçado, sendo o seu silêncio o objetivo de muitos intervenientes no mundo do futebol”.
Na sua opinião, “as autoridades portuguesas (...) ter-se-ão precipitado na detenção do seu cliente”, influenciadas pelas alegações do fundo de investimento Doyen Sports, que apresentou uma queixa-crime em Portugal contra Rui Pinto.
Os advogados dizem ainda que o seu cliente cumpre os critérios de proteção dos lançadores de alertas [_whistblowers_], resultantes das últimas disposições da legislação europeia e de muitos países europeus.
A eurodeputada socialista Ana Gomes entrou na controvérsia com um uma publicação nas redes sociais onde parece apoiar o pirata informático português detido na Hungria e em risco de extradição para ser detido em Portugal.
"Pirata ou denunciante?", pergunta Ana Gomes pelo Twitter, defendendo que Rui Pinto "expôs corrupção bem entrincheirada" e considerando que este assunto deve ser seguido "com atenção."