O presidente de Moçambique, Felipe Nyusi, e o líder da oposição, Ossufo Momade, assinam tratado que pretende encerrar de forma permanente a violência armada no país
A assinatura de um novo acordo de paz entre os líderes da Frelimo, o partido no poder desde a independência de Moçambique, e o da Renamo foi selada com abraços, uma expressão simbólica do que ambos esperam ter alcançado nesta cerimónia realizada na região da Gorongosa.
O Presidente Filipe Nyusi e o líder da oposição Ossufo Momade, esperam ter colocado um ponto final permanente no longo conflito armado no país e nas desconfianças eleitorais que há cerca de seis anos provocaram uma nova escalada de hostilidades armadas entre as partes.
"A partir de hoje, abre-se uma nova era na história do nosso país onde nenhum moçambicano ou grupos de moçambicanos deve utilizar a violência armada como meio de solucionar diferenças políticas ou de opinião", afirmou o presidente moçambicano e líder da Frelimo, Filipe Nyusi, no discurso após a ratificação das tréguas e antes de dar um novo abraço ao líder da oposição, num gesto sempre muito saudado pela plateia.
Antes já tinha tomado da palavra Ossufo Momade, num discurso onde vincou o desejo de futuros atos eleitorais livres, democráticos e insuspeitos em Moçambique.
"Perdemos concidadãos e consentimos sacrifícios de ambas as partes, mas conseguimos identificar o que nos une como moçambicanos: a paz e a reconciliação nacional", especificou o líder da Renamo.
Conflito armado desde 1977
Moçambique foi palco de um conflito armado entre a Frelimo, o partido no governo desde a independência, e a Renamo, a principal força da oposição.
O "machado" da guerra civil foi "enterrado" num Acordo Geral de Paz assinado em 1992, após a morte de centenas de milhares de pessoas.
A relação entre os dois partidos nunca se tornou verdadeiramente pacífica e, em 2013, as hostilidades armadas voltaram a intensificar-se após diferendos sobre a composição da Comissão Nacional de Eleições.
Após um ataque militar das forças governamentais à base da Renamo na Gorongosa, o partido da oposição anunciou o fim do acordo de paz de 1992 e Moçambique voltou a viver no medo de uma guerra civil até um novo acordo de paz alcançado em agosto de 2014.
As eleições de outubro desse ano, favoráveis à Frelimo e que valeram a Nyusi a chegada à Presidência da República, provocaram o reacender das hostilidades, com a Renamo a contestar os resultados e ameaçou tomar o controlo a bem ou mal de pelo menos seis províncias onde alegava ter ganho.
Um novo acordo de tréguas por um período indeterminado foi estabelecido em 2016 entre Filipe Nyusi e o então líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Dhlakama morreu em maio do ano passado e Ossufo Momade assumiu a liderança do partido na oposição.
As negociações de paz já em curso entre Nyusi e Dhlakama tiveram continuidade e culminaram, agora, num primeiro acordo de um processo de paz que ainda vai continuar e que para já prevê inclusive a integração de membros do braço armado da Renamo nas forças de segurança moçambicanas.