Faltam quatro semanas para o Brexit e, sem um acordo com Bruxelas, aumentam os receios de um regresso da violência na Irlanda do Norte.
Durante mais de 25 anos, o medo tinha uma face que se mostrava todos os dias na Irlanda do Norte. Memória mais viva do que as imagens que documentam o conflito que matou mais de 3500 pessoas e só terminou com o Acordo de Sexta-feira Santa em 1998.
Eugene Reavey perdeu três irmãos para os unionistas britânicos em 1976. A possibilidade de uma nova fronteira com a Irlanda desperta-lhe receios de um regresso da violência. “Ouço dizer que o republicanismo convencional, o velho IRA, não vai voltar à guerra, mas temos dissidentes e outros grupos que se alimentam destes dramas e não tenho dúvidas que vão atacar qualquer estrutura construída ao longo daquela fronteira," diz.
O assassinato da jornalista Lyra McKee por um dissidente do IRA em abril deste ano alimenta os receios. Mas há ainda quem considere que o regresso da violência é pouco provável. É o caso de Eamonn Mallie, autor de um livro sobre o IRA, que considera “que os sentimentos são tão fortes nos dois lados da fronteira que não há necessidade de prever o comportamento de republicanos dissidentes ou qualquer laivo de republicanismo. ”
Na comunidade protestante britânica há menos certezas sobre um futuro pacífico e defende-se que é preciso garantir a segurança. Sam McBride, jornalista da secção de Política do jornal "The Belfast News Letter" considera que "os dissidentes republicanos fazem por aproveitar qualquer oportunidade para justificar violência e obter mais apoio da comunidade. Talvez ataquem uma infraestrutura na fronteira".