Presidente do Conselho Europeu admite novo prolongamento caso o acordo do Brexit volte a ser reprovado em Londres. Na Escócia, pede-se independência
O Conselho Europeu aprovou esta quinta-feira à tarde o novo acordo negociado com o Reino Unido para o Brexit. Do lado de Bruxelas, o documento ainda precisa da ratificação do Parlamento Europeu, mas antes será analisado e votado pelo Parlamento britânico este sábado.
"Tenho uma grande esperança, falando dos representantes eleitos, que os deputados em Westminster se juntem para cumprir o Brexit, fazendo passar este excelente acordo e concretizando o Brexit sem mais demoras," declarou o primeiro-ministro britânico no anúncio do entendimento.
Caso o acordo seja reprovado, Boris Johnson está obrigado a cumprir a chamada Lei Benn e pedir um novo alargamento do prazo para a saída do Reino Unido da União Europeia.
O Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, concordou com um eventual alargamento do prazo do Brexit caso o Parlamento britânico volte a rejeitar o acordo alcançado.
Uma questão que Jean-Claude Juncker, o Presidente da Comissão Europeia, nem sequer quer discutir nesta altura. "Temos um acordo e este acordo quer dizer que não há necessidade de qualquer adiamento. É um entendimento justo e equilibrado e traduz o nosso compromisso para encontrar soluções," afirmou.
Ao pedido de uma mensagem para os 48% dos eleitores britânicos que votaram pela permanência do Reino Unido na União Europeia, Juncker, referiu: "Estavam certos."
No centro da regulação das relações entre o Reino Unido e a União Europeia depois de 31 de outubro está o estatuto da Irlanda do Norte.
O novo acordo estabelece uma fronteira no Mar da Irlanda e deixa a Irlanda do Norte alinhada com as disposições europeias em matéria de circulação de pessoas e bens e como ponto de entrada do mercado único europeu.
Ainda assim, dos dois lados foi garantido que a integridade dos mercados está assegurada e que os norte irlandeses serão ouvidos.
"Os representantes eleitos da Irlanda do Norte vão poder decidir por maioria simples se querem continuar a seguir as regras da União Europeia no país ou não," garantiu Michel Barnier, o negociador-chefe da UE. O acordo prevê uma consulta de quatro em quatro anos sobre o modelo aduaneiro a praticar na Irlanda do Norte.
UNIONISTAS BRITÂNICOS DESCONTENTES
O acordo é rejeitado pelo Partido Unionista Democrático, da Irlanda do Norte, um dos partidos que foi determinante para o Governo conservador no Reino Unido.
Em causa está a aplicação proposta de impostos aduaneiros e "a falta de clareza" sobre o Imposto de Valor Acrescentado (IVA), após o Brexit.
"Vamos continuar a trabalhar com o Governo para tentarmos um acordo razoável que funcione para a Irlanda do Norte e proteja a integridade económica e constitucional do Reino Unido", lê-se no comunicado do DUP.
A rejeição do DUP reforçou os argumentos da oposição, a dois dias do final do prazo para Boris Johnson conseguir garantir um acordo para o Brexit.
O Partido Trabalhista diz-se agora pronto a trabalhar para colocar a referendo o novo acordo.
"Do que sabemos, Johnson negociou um acordo pior que Theresa May, que foi esmagadoramente rejeitado", sublinhou o líder trabalhista, pelas redes sociais, classificando o novo acordo com Bruxelas como "um negócio de liquidação" que não irá unir o país e que "deve ser rejeitado".
"A melhor forma de resolver o Brexit é dar a última palavra ao povo num voto público", concluiu Jeremy Corbyn.
Completamente contra o Brexit, o Partido Liberal Democrático considera a proposta de Boris Johnson ainda pior que a da antecessora Theresa May, que foi rejeitada três vezes na Casa dos Comuns.
Os "LibDems" também pedem a Boris Johnson que coloque o novo acordo à vontade do povo.
Na Escócia, ganha força o grito pela independência do Partido Nacionalista.
A líder, Nicola Sturgeon, sublinhou que "a Escócia não votou pelo Brexit e os deputados do SNP não irão votar pela saída". "Em especial porque se torna claro que a Escócia, isolada nas nações do Reino Unido, está a ser tratada de forma injusta", acusou.
"Nas circunstâncias atuais, está claro mais do que nunca que o melhor futuro para a Escócia deve ser o de uma nação europeia igual e independente. Essa é uma escolha que estou determinada a dar ao povo da Escócia", prometeu Sturgeon.
O Partido Conservador, de Boris Johnson, defendeu que o novo acordo permite ao Reino Unido "concluir o Brexit e deixar a União Europeia daqui a duas semanas".
"Depois podemos focar-nos nas prioridades das pessoas, o país pode unir-se e avançar", lê-se na publicação do partido no Governo.
O Parlamento britânico, oficialmente designado como a Casa dos Comuns na câmara baixa, fez saber que a sessão de sexta-feira será dedicada ao debate deste novo acordo para o Brexit anunciado entre a Comissão Europeia e o governo liderado por Boris Johnson.
A discussão entre os Comuns vai prolongar-se numa sessão extra entretanto confirmada para sábado.