Tradição iniciada por "Tiu Lérias" há mais de 70 anos é ressuscitada por Paulo Meirinhos, dos Galandum Galundaina.
Miranda do Douro é terra de gaitas, mas agora também de guitarras - guitarras especiais fabricadas por Paulo Meirinhos, um dos membros do grupo Galandum Galundaina, a partir de latas de óleo. A ideia nasceu há mais de 70 ano pela mão de Francisco dos Reis Domingues ("Tiu Lérias", 1909-1993), um músico histórico da terra que Meirinhos quis agora homenagear.
O legado deixado por Francisco dos Reis Domingues consta das recolhas do etnomusicólogo francês Michel Giacometti e de filmes dedicados à cultura do Nordeste Transmontano.
O "guitarro", como assim é designado o instrumento musical, é composto por uma lata estilo 'vintage' que no passado serviu para transportar lubrificantes ou produtos alimentares, à qual se lhe acrescenta um braço com escala musical feito numa fábrica em Braga, e diversos componentes elétricos e eletrónicos, e que em conjunto emanam um som "único e característico".
"Juntei-lhe alguns componentes eletrónicos, para aproveitar os recursos de hoje, mas o essencial do som sai da lata", explica o músico.
A sonoridade única do "guitarro" pode ser ouvida nas canções dos Galandum Galundaina, um grupo já com 23 anos de carreira e quatro álbuns.
O característico som da lata, que após amplificado, marca a diferença, principalmente nos sons mais agudos, em que "o torna agradável ao ouvido e harmónico no acompanhamento de outros instrumentos como a sanfona, as percussões ou até mesmo uma gaita-de-foles", disse o músico à Agência LUSA.
Para além da construção deste tipo de instrumento de cordas, o musico também constrói réplicas medievais como a rabeca e o rabel. Paulo Meirinhos também excuta os tradicionais pandeiros mirandeses, que têm várias formas e são introduzidos nas músicas de vários cancioneiros regionais, um pouco por toda a Península Ibérica, dadas as muitas semelhanças sonoras.