O efeito "Dayton" 25 anos depois da Guerra da Bósnia

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De  Anelise BorgesAna Serapicos
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A Euronews foi até à Bósnia Herzegovina perceber como é que o país lida com diferença étnica

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A Guerra da Bósnia foi um dos conflitos mais sangrentos da Europa. Acredita-se que 100 mil pessoas tenham perdido a vida e 2 milhões tenham sido deslocadas.

A guerra deixou marcas profundas na Bósnia e Herzegovina, onde as divisões étnicas enraizadas continuam a ser um alerta para o mundo.

Quando Maja conheceu Sanjin, as circunstâncias eram outras. "Na verdade, conhecemo-nos éramos crianças refugiadas em Berlim.", conta Maja à euronews.

"Antes da guerra, as pessoas conheciam-se, amavam-se...não importava a religião ou grupo étnico."
Sanjin

Voltaram a encontrar-se anos depois em Sarajevo. Estão juntos desde então. São muitas vezes chamados de "casal misto", um casal constituído por duas pessoas de diferentes etnias. Algo cada vez mais raro nos dias de hoje na Bósnia Herzegovina.

Para Sanjin, tudo era diferente antes da guerra.

"Antes da guerra, as pessoas conheciam-se, amavam-se...não importava a religião ou grupo étnico.", conta. "É difícil explicar o que está a acontecer agora". conclui.

A Guerra da Bósnia aconteceu de abril de 1992 a dezembro de 1995. Foi o conflito mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1995, com a mão dos EUA, o conflito foi encerrado com o Acordo de Dayton - assinado em Dayton, no estado norte-americano do Ohio, onde os presidentes da Sérvia, da Bósnia-Herzegovina e da Croácia aceitaram a continuidade da existência da Bósnia com uma parte croata-muçulmana e outra sérvia.

O país ficou dividido em duas entidades administrativas: A "Federação" Bósnia-Croata e a República Srpska, para os sérvios da Bósnia.

euronews

As comunidades foram fragmentadas e o nacionalismo étnico tornou-se uma ferramenta política.

Adnan Huskics, da Escola de Ciências e Tecnologias de Sarajevo, acredita que a questão dominante ainda é o "Nós contra eles".

"Não estamos a falar de objetivos nacionalistas genuinamente não cumpridos. Acho que estas são ferramentas muito úteis e são usadas facilmente para manipular o público e garantir que ninguém faça perguntas.", explica Adnan Huskics. "No fundo, o que domina é: Nós contra eles.", conclui.

Mostar, a cidade dividida

"Nós e eles" são conceitos que a Mostar, com 80 mil habitantes, conhece bem. Uma das linhas da frente durante a Guerra da Bósnia permanece dividida em leste e oeste.

Na cidade de Mostar há dois hospitais, duas empresas elétricas e até duas corporações de bombeiros. De um lado estão muçulmanos bósnios, do outro, croatas católicos. Em 2004, Mostar quis unificar. Ma funcionou apenas no papel.

O ginásio de Mostar, onde as crianças locais frequentam as aulas, não é uma escola normal. No interior do edifício, os estudantes croatas e bósnios estão separados, têm professores diferentes e seguem planos currículares diferentes. As autoridades uniram os dois sistemas de ensino - mas não os fundiram. Um símbolo de uma divisão enraizada 25 anos depois da guerra.

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Ginásio de Mostareuronews

Amna Popovac, ativista, explica que a separação das crianças poderá definir o futuro do país.

"No jardim de infância, tem de se escolher entre enviar o filho para o lado bósnio ou para o lado croata. As crianças não se encontram durante os anos da escola. Crescem separados. O meu maior medo é que, ao separar o sistema educacional, estejamos a contruir bases para um próximo conflito.", explica Amna Popovac.

Em 2020, a Europa e o resto do mundo testemunham uma ascensão do nacionalismo populista, os bósnios alertam para o quão perigosa a separação pode ser.

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