O setor pede compensações diretas para colmatar as perdas devido às tarifas impostas por Donald Trump
É com alguma ansiedade que os produtores vinícolas franceses olham para as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América.
Embora a Borgonha fique a milhares de quilómetros de Washington, o resultado do escrutínio entre Donald Trump e Joe Biden terá um impacto direto no negócio do vinho gaulês.
Os Estados Unidos são o principal mercado de exportação do vinicultor Aubert Lefas, mas as tarifas impostas há um ano ao vinho francês, pela administração Trump, levaram a uma queda de 20% nas suas vendas naquele país.
"Donald Trump criou uma distorção de preços de 25% nos nossos vinhos com estes impostos, o que é considerável, especialmente no meio de uma pandemia. Numa nota pessoal, ficarei feliz se um democrata for eleito, mas não tenho a certeza de que um novo presidente vá mudar automaticamente o sistema fiscal. Nós, vinicultores, somos apenas as vítimas de uma guerra comercial entre a Airbus e a Boeing".
Há um ano, a Organização Mundial do Comércio decidiu a favor dos Estados Unidos e autorizou o país a aplicar tarifas adicionais de cerca de 7 mil milhões de euros a produtos europeus.
Donald Trump introduziu, de seguida, impostos sobre os vinhos franceses e espanhóis, mas também sobre alguns queijos italianos e uísques escoceses, como represália pelos subsídios concedidos pelos Estados europeus à Airbus.
"A Covid-19 teve impacto, mas as tarifas de Donald Trump atingiram mais profundamente os vinicultores gauleses. No primeiro semestre de 2020, as exportações para os Estados Unidos registaram um declínio de 15% em volume e 28% em valor. A quebra não teve, no entanto, tantas repercussões nas exportações para o Reino Unido e para a Alemanha"
Não foram apenas os pequenos vinicultores a sofrerem as consequências.
No vale do Ródano fomos encontrar Michel Chapoutier.
Este famoso vinicultor tem, também, vinhas em Espanha e na Austrália. Para ele, os Estados Unidos são o principal mercado. A sua margem de lucro caiu 50%. No entanto, Chapoutier parece estar mais zangado com o Governo de Emmanuel Macron e com a Airbus do que com Donald Trump.
"Poder-se-ia dizer, sim, mas há uma queda na atividade por causa da Covid-19. Desde o início do ano, a Nova Zelândia tem registado um aumento de 15% nas exportações para os Estados Unidos. O mercado norte-americano está a crescer, apesar do coronavírus. Estamos a ser sancionados e deixados de fora pelo nosso Governo, que prefere apoiar a Airbus e deixar-nos pagar pelas suas violações das regras do comércio internacional".
O setor pede compensações diretas para colmatar as perdas devido às tarifas impostas por Donald Trump.
Independente do vencedor do escrutínio presidencial, do dia três de novembro, esta é uma provação que ainda vai fazer perdurar o sabor amargo na boca dos vinicultores franceses.