Mundo pós-Covid e clima em debate na cimeira saudita do G20

O mundo pós-Covid, em especial as medidas para a retoma económica e sobretudo do emprego, é o principal ponto na agenda de trabalho da cimeira de dois dias do "Grupo dos 20", o popular G-20, o grupo das vinte maiores economias do mundo, incluindo a União Europeia.
O coletivo é este ano presidido pela Arábia Saudita, o único representante árabe no G20 e um estreante na organização destas cimeiras, que, desta feita, está confinada a uma videoconferência devido exatamente à pandemia, que já soma mais de 57 milhões de casos confirmados por todo o mundo, incluindo quase 1,8 milhões de mortos.
O Diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho, numa mensagem preliminar ao arranque da cimeira, alertou que os danos económicos da Covid-19 vão ser sentidos por todo o mundo para além deste ano e é preciso uma ação coordenada dos países mais fortes para ajudar as economias mais vulneráveis.
Só entre os membros do G20 e no terceiro trimestre deste ano, Guy Rider estima terem já sido perdidos o equivalente a 225 mil postos de trabalho a tempo completo devido à pandemia.
Donald Trump lembrado sem saudade
A atual situação de Donald Trump, derrotado nas eleições e aparentemente mais preocupado com a contestação à vitória de Joe Biden do que em liderar os Estados Unidos, também deverá fazer parte indiretamente da agenda de trabalhos do G20, no capítulo das alterações climáticas.
A referência subentendida foi deixada pela Presidente da Comissão Europeia após uma reunião preparatória desta cimeira de Riade com o homólogo do Conselho Europeu, Charles Michel.
Arábia Saudita criticada
Pela primeira vez na história do G20, a organização da cimeira é da responsabilidade da Arábia Saudita, uma potência do Médio Oriente muito criticada pela forte repressão dos direitos humanos, nomeadamente contra as mulheres e a liberdade de expressão.
Forte aliado geoestratégico dos EUA, com laços reforçados durante a Administração Trump, e uma rivalidade histórica com o Irão, o reino saudita viu-se particularmente atingido pelas críticas após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita de Istambul, na Turquia.
Um crime com claros indícios de ter partido das altas esferas da liderança saudita, mas apenas com condenações simbólicas de alegados responsáveis pela macabra execução.
O caso afastou as lideranças saudita e turca, mas as últimas notícias oficiais dão conta de um contacto telefónico realizado esta sexta-feira entre o Rei Salman bin Abdulaziz e o presidente Recep Tayyp Erdogan.
A presidência turca sublinhou o "acordo" estabelecido entre os dois líderes, neste telefonema, de "manterem abertos os canais de diálogo para melhorarem os laços bilaterais e ultrapassar os problemas", tendo ambos também abordado a cimeira do G20.
A detenção em 2018, sem direito a julgamento, de algumas ativistas pela liberdade das mulheres na Arábia Saudita levou também esta semana à encenação de um protesto em Paris contra o regime saudita.
Imagens das ativistas presas há dois anos pela Arábia Saudita foram projetadas na fachada do Museu do Louvre, com pedidos ao Presidente Emmanuel Macron para acabar com a hipocrisia e exigir à liderança saudita a libertação imediata das mulheres.