Supremo Tribunal das Ilhas Virgens Britânicas, onde a empresária tinha registado a Vidatel, assumiu a administração judicial da empresa e as consequentes ações no capital da maior operadora de telecomunicações de Angola
Isabel dos Santos perdeu o controlo da participação de 25% que detinha na Unitel, a principal operadora de telecomunicações em Angola, atualmente com 50% nas mãos da Sonangol.
A saída da empresária angolana visada nos "Luanda Leaks" resulta de uma ação judicial concretizada num despacho do Supremo Tribunal das Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal onde estava registada a Vidatel.
No despacho, datado de 19 de novembro e agora revelado num comunicado da empresa PT Ventures, detida desde janeiro pela Sonangol, a justiça retirou o controlo da Vidatel a Isabel dos Santos e assumiu a administração judicial da empresa e dos respetivos 25% de ações na Unitel.
A gigante das telecomunicações angolanas é detida em 50% pela petrolífera estatal de Angola desde a aquisição da PT Ventures pela Sonangol, em janeiro passado.
Aos 25% que já detinha antes através da subsidiária MSTelcom, a Sonangol passou a somar a maioria e pode agora avançar para o desenvolvimento da empresa sem o "peso" da empresária que tem vindo a ser perseguida pela justiça em Luanda, por alegado desvio de dinheiros públicos.
A empresa Geni, controlada pelo general Leopoldino do Nascimento, controla outros 25% e Isabel dos Santos controlava os restantes 25% através da Vidatel, agora apreendida nas Ilhas Virgens Britânicas.
A PT Ventures explica que o objetivo da nomeação de administradores judiciais para a Vidatel é o de preservar e assegurar os ativos relevantes, enquanto se aguarda a confirmação da condenação dos sócios fundadores da empresa agora arrestada, incluindo Isabel dos Santos, no Tribunal da Relação de Paris.
A sentença proferida em fevereiro de 2019 indica que os fundadores da Vidatel têm de pagar à PT Ventures duas indemnizações no valor global de 654,2 milhões de dólares (cerca de €569 milhões).
Isabel dos Santos é também visada num processo aberto em Londres, no passado mês de outubro, no qual a Unitel reclama a restituição de sete empréstimos concedidos a uma outra empresa da filha de José Eduardo dos Santos.
Esses empréstimos agora a ser investigados pela Divisão de Comércio do Tribunal Superior londrino estão avaliados em mais de €350 milhões, terão sido concedidos entre 2012 e 2013 para financiar várias operações de Isabel dos Santos, incluindo a compra de ações na operadora portuguesa ZON, a aquisição da T+ Telecomunicações de Cabo Verde e um investimento na Unitel de São Tomé e Príncipe.
Isabel dos Santos tem vindo a ser pressionada pela justiça angolana, nos quais o Estado reclama mais de €4,5 mil milhões desviados para operações detidas pela empresária e pelo marido Sindika Dokolo, recentemente falecido num acidente de mergulho.