Moçambique: "Levaram-no e cortaram-lhe a cabeça"

Decapitam homens e rapazes, batem nas mulheres e raptam as meninas. A historia de Muanassa Amulia é igual a tantas outras mas nem por isso é comum. Há um povo que sofre no norte de Moçambique com a violência jihadista armada.
"Os atacantes encontraram-nos no campo. Éramos sete mulheres e três homens. Espancaram as mulheres e depois levaram um homem para o arbusto a uns cinco metros de distância e cortaram-lhe a cabeça. Levaram outro homem e também o mataram. Apenas bateram nas mulheres, mas levaram as meninas, as minhas netas", afirma a moçambicana de 61 anos, deslocada de Quissanga.
Muanassa Amulia confessa que ainda hoje pensa no que aconteceu. "Não consigo comer ou dormir, penso nos meus filhos e netos que foram levados e nunca voltaram", confessa.
Há um incessante êxodo de refugiados que tentam escapar à morte e à brutalidade do grupo Al-Shabab, ligado ao Estado Islâmico. Só os que não têm meios para fugir ficam para trás.
Aziza Falume, grávida, fugiu durante a madrugada num barco com o marido quando a sua casa foi atacada. A meio da viagem o inevitável aconteceu. "Estava grávida de 9 meses quando deixei Matemo. A caminho de Pemba comecei a sentir dores. Foi então que parámos numa ilha onde dei à luz. Continuamos depois a nossa viagem para Pemba, diz
A bebé chama-se Awa, traduzido da língua Makuwa significa sofrimento. O sexto filho. A família foi acolhida por um bom samaritano em Pemba, a capital da província de Cabo Delgado, rica em pedras preciosas e gás natural. É aqui onde se desenvolve um dos maiores projetos privados de exploração de gás natural do continente africano, liderado pela francesa Total.
O preço humanitário é mais de duas mil mortes e meio milhão de refugiados e a fatura aumenta. A fome faz-se sentir. Aqui vive-se segundo a segundo, pelas piores razões, e nalguns casos, como animais.
"Aqui tem muita fome, três centros. Temos fome, senhor jornalista. Quando chegar em Pemba diz a verdade. A comunidade de Mapassene e de Mapane tem fome! Se você vir pessoas já morrer de fome, não é de admirar. Temos fome! Um saco de 50 kg para 30 dias não é igual a nada", diz Ramadam Namumb, diretor do campo de deslocados de Metuge.
Isa Alí, deslocado de Quissanga desabafa. Diz que "não somos animais. Os animais dormem na terra, fazem um buraco e dormem. Passámos três a quatro meses a dormir no chão, no cimento. Estamos a ficar doentes".
A Amnistia Internacional estima que mais de 350 mil pessoas correm o risco de passar fome, condena o grupo terrorista islâmico, que iniciou os ataques em 2017, mas também aponta o dedo ao governo pelo que diz ser uma conduta fora-da-lei no te