Muhammed Subat, o jornalista que registou a Síria que nunca esquece

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De  Anelise BorgesEuronews
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Depois de fugir de uma prisão síria, onde foi parar por se opor ao regime de Bashar al-Assad, Muhammed Subat documentou o seu país em guerra. As imagens estão gravadas na memória que transportou consigo para Espanha, onde vive como refugiado.

Quando cheguei a Espanha pensei que ia viver uma vida mais tranquila, no interior. Queria um descanso de tantas recordações. Mas quando aqui cheguei, todas as más recordações voltaram, tudo o que me aconteceu. Comecei a pensar nisso a toda a hora
Muhammed Subat
Jornalista sírio refugiado em Espanha
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Há dez anos, os sírios levavam a cabo um protesto pacífico contra o regime de Bashar al-Assad. A partir de então, o país mergulhou numa guerra civil que custou a vida a meio milhão de pessoas e deslocou metade da população. Muhammed Subat, jornalista sírio, hoje, refugiado em Espanha, estava entre os deslocados.

"Estou aqui em Espanha por causa da guerra. Gostaria de ter vindo aqui como estudante, para viajar, para ver futebol. Eu não queria ter vindo como refugiado. Mas a vida é assim", lamenta.

Nas ruas, milhões de sírios, como Muhammed, exigiam, em 2011, a queda do regime e atreviam-se a sonhar com a mudança.

Ao rever as imagens de pessoas a retirar das ruas fotografias e cartazes do chefe de Estado, o jornalista recorda ter sido aí que sentiram "coragem e força para falar".

Inspirados por uma onda de protestos contra as ditaduras no mundo árabe, os manifestantes condenaram então o regime sírio por corrupção, injustiça e desemprego.

"Estas imagens mostram os momentos mais belos da revolução síria. Não há medo. Não havia medo no início".

Mas o medo acabaria por chegar. Numa resposta representativa do que estava disposto a fazer para se manter no poder, o governo de Bashar al-Asad destacou mais de seis mil militares para Daraa.

A cidade foi cercada durante dez dias, dezenas de pessoas foram mortas e cerca de mil, detidas.

Também Muhammed foi parar à prisão, duas vezes.

"Num espaço muito pequeno, havia mais de 100 pessoas. Havia choques elétricos e insultos. Havia algo com que nos penduravam no teto, de cabeça para baixo, durante 9 ou 10 horas, e batiam-nos. E o nosso único crime foi participar [em protestos] e pedir liberdade. Esse foi o nosso crime".

À medida que a guerra eclodia no país, Muhammed conseguiu escapar à polícia. Passou os oito anos seguintes entre os bombardeamentos a documentar o conflito.

Até que um dia foi forçado a fugir.

Hoje, é com dor que volta às imagens que ele próprio registou e às lembranças que jamais se apagam da sua memória.

"Há muito tempo que não via estas imagens. É difícil para mim. Elas fazem-me lembrar muitas coisas. O meu país, a minha família, os meus amigos. Tudo está lá. Esta é a nossa causa.

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