Pandemia cria casos sérios de doença mental nos jovens

A falta de saúde mental dos jovens está a obrigar a maiores hospitalizações
A falta de saúde mental dos jovens está a obrigar a maiores hospitalizações Direitos de autor JOEL SAGET/AFP
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De  Isabel Marques da SilvaGregoire Lory
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Pandemia cria casos sérios de doença mental nos jovens

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Os serviços hospitalares europeus têm constatado um aumento da procura de apoio psiquiátrico por parte de adolescentes, com mais casos de dificuldades em lidar com as restrições do combate à pandemia de Covid-19.

Em França, as hospitalizações de menores de 15 anos aumentaram em 80%. A tendência é similar na Bélgica: no caso do hospital Erasmo, em Bruxelas, as consultas triplicaram, desde setembro, e há quem tenha de esperar três meses para ser visto por um especialista.

No terceiro nível temos casos de grandes depressões, que incluem mesmo situações de psicose, em que há um sentimento de perseguição e de paranóia.
Marie Delhaye
Psiquiatra pediátrica, Hospital Erasmo, Bélgica

Os médicos definiram três níveis na gravidade dos casos. No primeiro, os jovens falam da sensação de perda e da angústia sobre o futuro, mas nos níveis seguintes surgem casos de patologias graves.

“No segundo nível temos os problemas de transtornos alimentares, sobretudo a anorexia. Temos jovens que perderam 20 kg e os pais nem se se aperceberam disso. No terceiro nível temos casos de grandes depressões, que incluem mesmo situações de psicose, em que há um sentimento de perseguição e de paranóia", explicou Marie Delhaye, psiquiatra pediátrica no Hospital Erasmo.

Tratamento a curto e longo prazo

O hospital resolveu reorganizar o serviço e faz agora hospitalizações mais curtas dos pacientes, mas com tratamentos mais intensivos.

Eu já não tenho motivação nenhuma para fazer tudo o que fazia antes. É claro que isso pesa no meu estado de espírito, vê-se bem que não quero fazer nada, fico de mau humor, estou mais irritado.
Arthur, 17 anos
Paciente de psiquiatria pediátrica

Arthur, de 17 anos, já recebia tratamento, há dois anos, por causa do transtorno do défice de atenção mas, com o confinamento, a ideia de ir à escola tornou-se insuportável.

“O despertador toca, digo que ainda posso ficar mais dez minutos. Passados dez minutos fico na mesma e no final das contas não me levanto. É difícil levantar-me, ir para a escola e ter de lá ficar três horas, quieto na cadeira, até que chegue ao fim. Quando estou na escola, apenas espero pelo fim das aulas para poder fazer o que me apetece. Basta alguém dizer para nos baldarmos e eu digo logo que sim, porque não quero ir para a escola”, contou o jovem à euronews.

Arthur perdeu o gosto por quase todas as atividades e o seu comportamento é agora mais errático: "Eu já não tenho motivação nenhuma para fazer tudo o que fazia antes. É claro que isso pesa no meu estado de espírito, vê-se bem que não quero fazer nada, fico de mau humor, estou mais irritado".

Apesar deste jovem ter um bom prognóstico no curto prazo, os médicos estão a desenvolver estratégias de tratamento a mais largo prazo.

As consequências da pandemia na vida familiar, tanto a nível económico como emocional, também poderão agravar o quadro e obrigar a tratamentos recorrentes no futuro.

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