Desconfiança no retomar das negociações sobre o nuclear iraniano

"Nem vale a pena ver". Foi assim que o líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, reagiu às ofertas que poderão vir das conversações em Viena para salvar o acordo nuclear entre Teerão e as potências mundiais.
Os comentários de Ali Khamenei surgem antes do início do diálogo e depois de Terão se ter anunciado pronta para enriquecer urânio até 60%, o nível mais alto alguma vez atingido, mas abaixo dos 90% necessários ao fabrico de armas.
O Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, classificou o anúncio como "provocador": "Levamos muito a sério o anúncio provocador de uma intenção de começar a enriquecer o urânio a 60% e o grupo dos 5 +1 deveria estar unido na rejeição dessa intenção. Devo dizer-vos que este passo põe em causa a seriedade do Irão em relação às conversações nucleares, tal como sublinha o imperativo de regressar ao cumprimento mútuo do Plano de Ação Global Conjunto".
A França, Alemanha e Reino Unido, países que fazem partes do acordo também emitiram na quarta-feira uma declaração conjunta expressando a sua "grande preocupação" com a decisão do Irão de aumentar o enriquecimento.
"Este é um desenvolvimento sério, uma vez que a produção de urânio altamente enriquecido constitui um passo importante na produção de uma arma nuclear". "O Irão não tem uma necessidade civil credível de enriquecimento a este nível", afirmaram.
A Arábia Saudita, um rival regional do Irão, emitiu igualmente uma declaração, dizendo que o enriquecimento a esse nível "não pode ser considerado um programa destinado a fins pacíficos" e exortou o Irão a "evitar uma escalada".
O Irão insiste que o seu programa nuclear é pacífico, embora o Ocidente e a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) afirmem que Teerão tinha um programa nuclear militar organizado até ao final de 2003.
Um relatório anual dos serviços secretos norte-americanos divulgado na terça-feira manteve a avaliação americana de que o ``Irão "não está atualmente a realizar as principais atividades de desenvolvimento de armas nucleares que julgamos serem necessárias para produzir um dispositivo nuclear''.
As conversações de Viena estão ainda ensombradas pelo ataque do fim-de-semana à principal central de enriquecimento nuclear do Irão, Natanz, suspeito de ter sido levado a cabo por Israel.
Os delegados retomam esta quinta-feira as conversações em Viena. O objetivo é encontrar uma forma de os Estados Unidos voltarem oficialmente ao acordo de 2015, denominado Plano de Ação Global Conjunto (JCPOA na sigla em inglês), um tratado que promete o alívio das sanções contra o Irão e o investimento internacional no país, em troca da contenção do programa nuclear de Teerão.