Crise de saúde pública no norte de Moçambique

Ingonane, Pemba, Moçambique
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De  Maria Barradas com Lusa, AFP
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A saúde pública, a alimentação e o alojamento são os grandes desafios das ONG's e autoridades em Pemba, onde milhares de pessoas procuraram refúgio

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As ONG's no terreno em Moçambique falam de crise de saúde pública na cidade de Pemba para onde convergiram já mais de 700 mil pessoas, fugidas dos ataques terroristas no norte da província de Cabo Delgado.

A pandemia, a malária e os surtos de cólera colocam grandes desafios. O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), tem reforçado a ação nos centros de saúde degradados; uma gota de água no oceano das necessidades.

Raoul Bittel, chefe de operações do CICV em Pemba afirma: "Se olharmos para o que aconteceu no ano passado e este ano, temos cerca de sete vezes mais pessoas que fugiram dos distritos do norte; passou de cem para cerca de setecentos mil. Portanto, obviamente, isto coloca muita pressão nas infraestruturas existentes: saúde, educação, tudo".

O médico Emilio Mashant, gestor de programas de saúde do CICV em Cabo Delgado fala de "pesadelo": "Isto [gerir a pandemia de Covid-19 e o influxo de pessoas deslocadas para Cabo Delgado ao mesmo tempo] é realmente um pesadelo, e para ser honesto, é muito complicado resolver estes problemas porque estas pessoas estão a viver em condições muito más. Mesmo pedir-lhes que comprem uma máscara para se protegerem é um desafio. Portanto, os deslocados internos... Bom, o sistema de saúde em geral está a tentar fazer o seu melhor para proteger as pessoas quando chegam às instalações de saúde".

O desafio da ajuda alimentar

Também na distribuição de alimentos e bens essenciais o desafio é gigante. A Cruz Vermelha pede aos líderes de bairros que não elaborem listas e deixem as suas equipas fazer o levantamento das necessidades para que a ajuda chegue às populações.

O delegado da Cruz Vermelha em Moçambique, André Nhatabe, esclarece: "Quando damos a conhecer que vamos trabalhar num bairro - por exemplo, Paquitequete -, não estamos a pedir listas. Estamos a comunicar que vamos lá" e a Cruz Vermelha tem “capacidade para elaborar as listas" de quem realmente precisa".

Em entrevista à agência Lusa Nhatabe questiona: "Quem elaborou a lista?", acrescentado: "Queremos que deixem a Cruz Vermelha fazer as suas atividades”, com levantamentos no terreno, porque a organização “ajuda as pessoas de forma transparente“

O relato de desvio de ajuda alimentar por líderes locais é frequente entre deslocados. Há quem se queixe de ser integrado nas supostas listas, sem nunca receber os respetivos apoios.

UE promete "apoios concretos"

Na segunda-feira, a União Europeia (UE) prometeu "apoio concreto" a Moçambique em ação humanitária, segurança e desenvolvimento. A promessa foi feita pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel numa reunião virtual com o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi.

A União Europeia tem manifestado abertura para apoiar o país, tendo estado em Moçambique, entre 19 e 28 de maio, uma missão técnica que visitou a província de Cabo Delgado para avaliar necessidades.

Terror compromete futuro de Moçambique

Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

Um ataque a Palma, junto ao projeto de gás em construção, a 24 de março provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas os tiroteios têm continuado e o ataque levou a petrolífera Total a abandonar o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

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