Crise humanitária agrava-se em Cabo Delgado

Aos ataques violentos ocorridos na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, somaram-se ainda poderosos furacões como o "Idai" ou o "Kenneth", e agora também a epidemia de Covid-19.
São já quase 800 mil deslocados internos em fuga das ofensivas dos alegados insurgentes jiadistas no norte do país e a necessitar de ajuda urgente. Uma situação em rápida deterioração.
Numa altura em que Moçambique finalmente se abre a ajuda militar estrangeira para gerir a violência em Cabo Delgado e proteger os civis, a RTP descobriu em Pemba, capital da província, alguns sobreviventes do ataque de março passado a Palma.
Um deles, San Said, de 73 anos, contou à reportagem da estação pública portuguesa do que escapou.
O sobrevivente dos ataques de Palma, com uma perna engessada, falou ainda de um rapaz que estava perto de si, também com uma perna engessada. Referia-se a Iman Rashid, de 16 anos.
Os dois fazem parte das centenas de pessoas a viver há mais de três meses em situação precária num pavilhão em Pemba. Milhares de pessoas em fuga do terroristas foram transferidas para a capital de Cabo Delgado.
Uns foram instalados em abrigos precários, outros ficaram a viver com familiares. A RTP descobriu também a família Massaia. São 31 membros e apenas um, o patriarca, tem trabalho para sustentar os demais, muitas vezes apenas com uma refeição por dia.
A somar às dificuldades de uma vida precária, há ainda denúncias de maus tratos contra estes deslocados por parte da polícia.
Muitos destes sobreviventes são vítimas de extorsão e até de detenção em Pemba, por não terem documentos, acusou a Caravana Jurídica, uma iniciativa com apoio do ACNUR de assistência às vítimas do conflito em Cabo Delgado.
No documento onde esta segunda-feira a União Europeia deu conta de ter aprovado a missão militar de ajuda a Moçambique é sublinhada a existência de pelo menos 1,3 milhões de pessoas a necessitar de ajuda humanitária e proteção na província de Cabo Delgado.