Antiga Jugoslávia lembra vítimas de desaparecimentos forçados

Guerra na Antiga Jugoslávia foi um dos "buracos negros" da Humanidade
Guerra na Antiga Jugoslávia foi um dos "buracos negros" da Humanidade Direitos de autor AP Photo/Amel Emric, Arquivo
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De  Francisco Marques
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Tributo das Nações Unidas foi celebrado na Bósnia, na Croácia, na Sérvia e no Kosovo, onde a guerra fez desaparecer mais de 35 mil pessoas na década de 90

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A guerra na antiga Jugoslávia foi um dos maiores "buracos negros" da Humanidade nos últimos 30 anos. Mais de 35 mil pessoas estão dadas como desaparecidas nos Balcãs desde o início do último grande conflito na região.

No âmbito do Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, promovido pelas Nações Unidas, as homenagens voltaram a realizar-se àqueles que deixaram de dar sinais de vida e de quem ainda se aguarda notícias, por exemplo, na Bósnia-Herzegovina, onde quase sete mil pessoas parecem ter-se evaporado.

"Por trás de cada um dos nomes de pessoas desaparecidas há uma história, uma vida, uma mãe e um pai, irmãos e irmãs, filhas e filhos, que têm vivido na incerteza há 26 anos e ainda não sabem o que aconteceu ao ente querido", afirmou Elmir Camic, o diretor do braço bósnio da Cruz Vermelha Internacional.

A Croácia também homenageou os mais de 1800 desaparecidos na última guerra dos Balcãs, com a deposição de uma coroa de flores no cemitério de Glina.

A Sérvia prestou o tributo aos seus desaparecidos e presidente da Comissão governamental para as Pessoas Desaparecidas, Veljko Odalović, aproveitou para responsabilizar os governos de Zagreb e Pristina pela falta de informação sobre os desaparecidos.

No Kosovo, há famílias à espera de notícias dos mais de 1600 entes queridos que perderam na guerra. Por eles, centenas de pessoas manifestaram-se esta segunda-feira em Pristina, a capital, sob o lema: "por quanto mas anos será preciso esperar?"

Em África, a Cruz Vermelha diz ter registado mais de 48 mil casos de pessoas desaparecidas devido a conflitos armados, violência ou em contexto migratório, com Moçambique a ser um dos países a engrossar recentemente esta trágica estatística devido à violência em Cabo Delgado.

O número surgiu num estudo divulgado esta segunda-feira na África do Sul, numa apresentação onde também foram referidos os Camarões e a República Centro-Africana como exemplos preocupantes.

Os desaparecimentos forçados, de acordo com o grupo de trabalho da ONU para este problema, fazem parte de "um crime complexo que viola todas as áreas do Direito".

Os relatores dos Direitos humanos garantem haver uma "uma clara ligação entre direitos económicos, sociais e culturais das vítimas e de seus parentes com os desaparecimentos". "A falta de proteção é um dos fatores que levam a essa situação", lê-se num comunicado do Centro Regional de Informação das Nações Unidas para a Europa Ocidental.

O grupo de trabalho pede aos países que assistam as famílias vítimas deste crime e que estão a passar "uma situação extremamente difícil quando o provedor financeiro desaparece". "O crime impacta a todos na família, principalmente mulheres e crianças", sublinha-se no comunicado.

"Em alguns países, existem leis de reparação, mas às vezes há barreiras como a ausência de uma certidão de óbito. Para os relatores, os países têm que prestar atenção ao impacto multidimensional dos desaparecimentos forçados para melhor responder às vítimas e à sociedade", acrescenta-se, cerca de nove meses após a ONU ter assinalado o 10.° aniversário da entrada em vigor da Convenção Internacional para Proteção de Todas as Pessoas de Desaparecimento Forçado.

Outras fontes • ONU

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