Tal como há quatro anos, as eleições federais na Alemanha impõem uma coligação para governar. A analista Julia Schwanholz explicou-nos o papel dos Verdes e dos Liberais no processo
As eleições da Alemanha abriram uma vez mais porta a uma coligação para formar governo, mas desta vez, aparentemente escancarada para os Verdes, de Annalena Baerbock, e para os liberais do FDP, de Christian Lindner.
Os dois partidos cresceram neste escrutínio e, tudo indica, têm agora nas mãos o poder de decidir que tipo de liderança política vai ter a Alemanha no pós Merkel: descaída à esquerda ou mantendo o rumo pela direita.
Em cima da mesa, estão para já duas fórmulas, batizadas pelas cores dos partidos implicados e ambas integrando os ecologistas e os liberais.
Por um lado, uma coligação "semáforo", liderada pelo SPD, de Olaf Sholz, de centro-esquerda e o partido mais votado nesta eleições (25,7%); Por outro, uma "jamaica", tendo ao leme os conservadores da aliança CDU/CSU (24,1%), que se despedem de Angela Merkel e são agora liderados por Armin Laschet.
Os Verdes (14,8%) e os liberais do FDP (11,5%) parecem ter o poder nas mãos e ser a chave para desbloquear o novo governo federal, com claros sinais deixados pelo eleitorado, como nos explicou Julia Schwanholz, professora de ciência política na Universidade de Duisberg-Essen.
"Naturalmente, haverá desilusões. Estamos a ver uma forte mudança de eleitores da CDU/CSU para o SPD, em especial entre os eleitores mais velhos, decisivos nesta eleição. Estamos a ver apoio aos liberais e aos Verdes entre os eleitores mais jovens e isto significa que estes eleitores mais jovens preferiram claramente uma mudança política", considera Julia Schwanholz.
Mais do que pelos dois partidos mais votados e tradicionalmente as duas maiores forças políticas na Alemanha, o próximo governo deve começar a ser delineado à mesa por Verdes e sociais-democratas, que, precisam de colocar as diferenças de parte e trabalhar por um desejo comum.
"Ambos os partidos desejam governar e ter impacto no futuro. Estão, agora, muito perto disso. Para o líder dos liberais, Christian Lindner, em particular, seria muito mau se deixasse de novo fracassar as negociações. A este respeito, ambos os partidos estão sob pressão. Mas, sim, também é verdade que as sobreposições de conteúdo não são demasiado grandes e, a este respeito, os partidos devem agora aproximar-se um do outro", perspetivou a analista, em declarações à Euronews.
Há quatro anos, a vitória da CDU, ainda de Angela Merkel, foi mais expressiva do que agora a do SPD, de Olaf Sholz. Apesar de uma queda de oito pontos, os democratas-cristãos conseguiram em 2017 32,9% dos votos contra os 25,7% agora alcançados pelos sociais-democratas.
Formar um novo governo sob a batuta de Merkel levou então mais de quatro meses e acabou por juntar no executivo os dois partidos mais votados, retirando expressão governativa a ecologistas e liberais.
Agora, está ainda tudo em aberto, uma nova coligação entre as duas maiores potências (CDU/SU e SPD) é possível, mas os pequenos partidos são agora um pouco menos "pequenos" e os grandes um pouco menos grandes.
Os Verdes passaram de 8,9% para 14,8%, enquanto o FDP subiu de 10,7% para 11,5%.
Logo na noite eleitoral, o líder do FDP afirmou que uma preliminar proximidade aos Verdes para perceber onde poderão existir convergências entre ambos os programas, com o co-líder dos Verdes, Robert Habeck, a admitir o mesmo tipo de proposta, ciente de que só por aí poderão ambicionar entrar no Governo.
Falta também saber para onde poderão depois pender, sabendo-se da admiração pré-eleitoral expressa pelo líder do SPD na governação regional de Armin Laschet (CDU) na Renânia do Norte e da maior afinidade dos Verdes pelas ideias do SPD.