Annalena e Christian, os "fazedores de chanceleres" pós Merkel

Annalena Baerbock (Verdes) e Christian Lindner (SPD) "têm" o poder nas mãos
Annalena Baerbock (Verdes) e Christian Lindner (SPD) "têm" o poder nas mãos Direitos de autor Andreas Gebert/Pool via AP//Sebastian Kahnert/dpa via AP
De  Francisco MarquesLena Roche
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Tal como há quatro anos, as eleições federais na Alemanha impõem uma coligação para governar. A analista Julia Schwanholz explicou-nos o papel dos Verdes e dos Liberais no processo

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As eleições da Alemanha abriram uma vez mais porta a uma coligação para formar governo, mas desta vez, aparentemente escancarada para os Verdes, de Annalena Baerbock, e para os liberais do FDP, de Christian Lindner.

Os dois partidos cresceram neste escrutínio e, tudo indica, têm agora nas mãos o poder de decidir que tipo de liderança política vai ter a Alemanha no pós Merkel: descaída à esquerda ou mantendo o rumo pela direita.

Em cima da mesa, estão para já duas fórmulas, batizadas pelas cores dos partidos implicados e ambas integrando os ecologistas e os liberais.

Por um lado, uma coligação "semáforo", liderada pelo SPD, de Olaf Sholz, de centro-esquerda e o partido mais votado nesta eleições (25,7%); Por outro, uma "jamaica", tendo ao leme os conservadores da aliança CDU/CSU (24,1%), que se despedem de Angela Merkel e são agora liderados por Armin Laschet.

Os Verdes (14,8%) e os liberais do FDP (11,5%) parecem ter o poder nas mãos e ser a chave para desbloquear o novo governo federal, com claros sinais deixados pelo eleitorado, como nos explicou Julia Schwanholz, professora de ciência política na Universidade de Duisberg-Essen.

"Naturalmente, haverá desilusões. Estamos a ver uma forte mudança de eleitores da CDU/CSU para o SPD, em especial entre os eleitores mais velhos, decisivos nesta eleição. Estamos a ver apoio aos liberais e aos Verdes entre os eleitores mais jovens e isto significa que estes eleitores mais jovens preferiram claramente uma mudança política", considera Julia Schwanholz.

Mais do que pelos dois partidos mais votados e tradicionalmente as duas maiores forças políticas na Alemanha, o próximo governo deve começar a ser delineado à mesa por Verdes e sociais-democratas, que, precisam de colocar as diferenças de parte e trabalhar por um desejo comum.

"Ambos os partidos desejam governar e ter impacto no futuro. Estão, agora, muito perto disso. Para o líder dos liberais, Christian Lindner, em particular, seria muito mau se deixasse de novo fracassar as negociações. A este respeito, ambos os partidos estão sob pressão. Mas, sim, também é verdade que as sobreposições de conteúdo não são demasiado grandes e, a este respeito, os partidos devem agora aproximar-se um do outro", perspetivou a analista, em declarações à Euronews.

Há quatro anos, a vitória da CDU, ainda de Angela Merkel, foi mais expressiva do que agora a do SPD, de Olaf Sholz. Apesar de uma queda de oito pontos, os democratas-cristãos conseguiram em 2017 32,9% dos votos contra os 25,7% agora alcançados pelos sociais-democratas.

Formar um novo governo sob a batuta de Merkel levou então mais de quatro meses e acabou por juntar no executivo os dois partidos mais votados, retirando expressão governativa a ecologistas e liberais.

Agora, está ainda tudo em aberto, uma nova coligação entre as duas maiores potências (CDU/SU e SPD) é possível, mas os pequenos partidos são agora um pouco menos "pequenos" e os grandes um pouco menos grandes.

Os Verdes passaram de 8,9% para 14,8%, enquanto o FDP subiu de 10,7% para 11,5%.

Logo na noite eleitoral, o líder do FDP afirmou que uma preliminar proximidade aos Verdes para perceber onde poderão existir convergências entre ambos os programas, com o co-líder dos Verdes, Robert Habeck, a admitir o mesmo tipo de proposta, ciente de que só por aí poderão ambicionar entrar no Governo.

Falta também saber para onde poderão depois pender, sabendo-se da admiração pré-eleitoral expressa pelo líder do SPD na governação regional de Armin Laschet (CDU) na Renânia do Norte e da maior afinidade dos Verdes pelas ideias do SPD.

As coligações de governo na Alemanha

Os executivos da maior economia da União Europeis são formados por tradição por coligações de diversos partidos porque a prática mostra que apenas por uma vez em 70 anos a maioria no "Bundestag" foi conseguida por apenas um partido político.

Algumas destas alianças governativas recebem apelidos curiosos. Eis as mais usuais:

Grande coligação/GroKo
Junta os dois maiores partidos alemães, a CDU e o SPD, e daí o nome de "grande coligação" ou "GroKo". A primeira versão surgiu em 1966. A segunda surgiu em 2005, no aparecimento de Angela Merkel (CDU) como chanceler. A coligação viria a aser retomada em 2013 e, após nova negociação de mais quatro meses em 2017, durou até agora;

"Semáforo"
É a designação para uma coligação entre o SPD (vermelho), o FDP (amarelo) e os Verdes, já testada a nível regional, mas ainda por estrear a nível federal. Parece, no entanto, ser agora a mais viável após os últimos resultados;

"Jamaica"
Parte das cores da bandeira do país e, claro, de novo das cores dos partidos envolvidos. Neste caso, trata-se de uma aliança também já testada a nível regional e ainda por estrear no Parlamento nacional. Junta os democratas-cristãos da CDU/CSU (preto) com os Verdes e o FDP (amarelo);

Preto-amarelo
É a coligação que mais vezes esteve no poder e junta a CDU, com o irmão-bávaro CSU, ao FDP. Formaram juntos 10 executivos e governaram 19 anos, mas a perda de força dos liberais, praticamente extinguiu a possibilidade de uma "reencarnação" a dois;

Verde-Vermelho
Os ecologistas entraram pela primeira vez num governo federal em 1998, ao lado do SPD. Depois de uma perda de força após 2011, os Verdes voltaram a ganhar força com o Acordo de Paris e a necessária luta contra as alterações climáticas. Em 2017, chegaram a ser ponderados para uma coligação,tal comoa gora, mas ainda sem a força necessária para um novo executivo bipartido com os sociais-democratas de centro-esquerda.
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