Talibãs agridem jornalistas durante protesto de mulheres

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Direitos de autor BULENT KILIC/AFP
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De  Francisco Marques
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Os profissionais faziam a cobertura da manifestação em Cabul pelos direitos femininos de estudar e trabalhar. As manifestantes conseguiram concluir a marcha

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Vários jornalistas foram perseguidos e agredidos por elementos afetos ao governo interino talibã do Afeganistão, esta quinta-feira, em Cabul.

Os profissionais da comunicação social tentavam fazer a cobertura de uma manifestação de mulheres, mas foram perseguidos por homens armados alegadamente afetos ao governo do movimento islâmico imposto pela força em meados de agosto.

As imagens estão a correr mundo e surgem um dia depois da terceira sessão de conversações em Moscovo sobre o Afeganistão, a primeira com representantes dos talibãs, agora no poder.

Na reunião, em que participaram também emissários dos governos da Índia, do Irão, do Paquistão e da China, num formato de cimeira iniciado em 2017 ainda com o governo eleito afegão no poder, foi admitido o reconhecimento do executivo talibã sob certas condições, colocadas em causa pelo sucedido esta quinta-feira em Cabul.

As agressões a jornalistas ocorreram durante uma marcha de mais de duas dezenas de mulheres, que durante cerca de uma hora percorreram algumas ruas no centro de Cabul, reclamando pelo direito a estudar e trabalhar, algo que os talibãs lhes têm vindo a reprimir desde que tomaram o poder.

Um ativista pelos direitos civis, citado de forma anónima pela agência "Pajhwok", alega que algumas mulheres estão a ser obrigadas a mendigar

Nas imagens é percetível ouvir-se os jornalistas a identificarem-se perante os elementos armados que os perseguem, sendo no entanto alguns agredidos pelos homens afetos ao regime talibã.

Desta vez, de acordo com um jornalista presente, afeto à France Press, a manifestação de mulheres decorreu sem oposição dos talibãs apesar de algumas tentativas para lhes interromper a marcha.

Talibãs na Rússia

Em Moscovo, Valentina Matviyenko, porta-voz do Conselho da Federação Russa, abriu a porta a um reconhecimento do atual governo talibã do Afeganistão pelo Kremlin, mas sob condição de o executivo ser inclusivo em termos da sociedade afegã e respeitar os direitos humanos.

"Os talibãs tomaram o poder, controlam todo o país e é necessário manter o diálogo com eles, é necessário reunirmo-nos com eles", afirmou Valentina Matviyenko, sublinhando a importância desses contactos como forma de "convencer os talibãs a formarem um governo verdadeiramente inclusivo que não só inclua representantes das tribos e de etnias, das pessoas que residem no território, mas também de todas as forças políticas".

A porta-voz colocou ainda a Federação russa ao lado de toda a comunidade internacional, no apelo ao Afeganistão para se "aliar aos estados civilizados, garantindo e protegendo os direitos humanos, sobretudo os das mulheres e crianças".

"A questão do reconhecimento ou não reconhecimento não é hoje a prioridade. Se, em resultado deste diálogo, os talibãs aceitarem essas condições que mencionámos, não apenas aprova-las por escrito, mas de facto implementa-las com ações, julgo que isto poderá levar ao seu reconhecimento uma vez que eles são o atual governo no país", explicou Valentina Matviyenko, citada pela agência TASS.

Denúncia de crimes

Apesar dos aparentes esforços diplomáticos para receberem o reconhecimento internacional, os talibãs continuam a ser denunciados por atos criminosos, por exemplo, contra jornalistas e mulheres.

Numa conferência organizada pela organização Nações Unidas Mulheres, a editora da principal agência de notícias afegã, a Pajhwork Afghan News, disse que desde que os talibãs chegaram ao poder pelo menos cinco jornalistas foram assassinados e mais de 10 foram torturados

"Sou uma jornalista experiente já com algum tempo de trabalho, mas agora não posso falar dos nossos problemas dentro do nosso país", lamentou a editora, citada pela agência EFE.

Fariza Kekzad lamentou ainda que em março deste ano havia no Afeganistão 1.700 mulheres a trabalhar em meios de comunicação ou como jornalistas, um número agora reduzido a cerca de trinta, das quais apenas três surgem ainda diante das câmaras.

Outras fontes • AFP, EFE

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