Embaixador russo garante à Euronews: "Não há planos para invadir nenhum país"

Enquanto as conversações diplomáticas de alto nível entre a Rússia e o Ocidente estão em curso, as tensões continuam. A Rússia acumulou milhares de tropas na fronteira ucraniana, enquanto os Estados Unidos responderam colocando tropas em alerta máximo, prontas para serem destacadas para a Europa. A guerra está mais próxima do que nunca? Para discutir todos os últimos desenvolvimentos, o Representante Permanente da Rússia junto da União Europeia, Vladimir Chizhov, respondeu às perguntas da jornalista Efi Koutsokosta em The Global Conversation.
Invasão da Ucrânia?
Senhor Embaixador, muito obrigada por estar connosco. Deixe-me começar pela pergunta mais óbvia. Estará a Rússia pronta para invadir a Ucrânia ou será tudo um bluff?
Não se trata de uma questão de prontidão. A Rússia não tem planos de invadir nem a Ucrânia nem qualquer outro país. É um bluff criado não na Rússia, mas nos países que estão agora a espalhar esta mensagem histérica, diria eu, pela Europa e pelo mundo.
"Mensagem histérica", diz o senhor. Mas é um facto que a Rússia foi a primeira a utilizar armas e sistemas ofensivos a uma distância impressionante da Ucrânia. Se isto não é um desafio direto à soberania do país, então o que é?
Ficará surpreendida com o número de armas ofensivas que a NATO tem utilizado ao longo das fronteiras russas. Para não falar de bases militares e assim por diante. Acrescentaria ainda, como ponto de estatística, que o número de sobrevoos ao longo das fronteiras russas na região do Mar Negro, por exemplo, no ano passado, aumentou 60%.
Vê uma grave ameaça à sua segurança por parte da NATO ao fazer isto, mas fê-lo. Juntou milhares de tropas perto da fronteira ucraniana. O que está em jogo para a Rússia?
O mais importante para a Rússia é a segurança nacional russa. Essa é a razão pela qual a Rússia apresentou uma iniciativa sob a forma de projeto de acordo com os Estados Unidos e com os países da NATO que, na realidade, colocaria no papel, de forma juridicamente vinculativa, uma série de compromissos que tinham sido acordados ao longo dos últimos 30 anos desde o colapso da União Soviética, quando, naqueles dias, a NATO prometeu não se expandir para leste. Nas palavras do então Secretário de Estado norte-americano, "nem uma polegada" para leste.
Desde então, enfrentámos até cinco vagas do alargamento da NATO em direção a leste. Assim, quando algumas pessoas ficam alarmadas por a Rússia se estar a aproximar da NATO, não é a Rússia a aproximar-se da NATO, é a NATO que se está a aproximar da Rússia.
Mas a Rússia, como disse, apresentou as suas exigências, incluindo, como disse, o fim da expansão da NATO para o Leste e também o fim efetivo das ambições da Ucrânia de aderir à aliança. Mas não será isso uma tentativa de recriar as antigas esferas de influência soviéticas? É o que está a tentar fazer?
Não. Na verdade, o que ouvimos do Ocidente, sejam os Estados Unidos ou a NATO ou mesmo a União Europeia, nas últimas semanas e meses, é uma reiteração do princípio de que todos os países independentes e soberanos têm direito aos seus próprios acordos de segurança e que as portas da NATO estão abertas a todos.
Mas penso que omitem sempre a segunda parte da fórmula, que na realidade foi acordada em 1999, em Istambul, e posso citar a da Carta para a Segurança Europeia. "Cada Estado participante tem o mesmo direito à segurança. Reafirmamos o direito de cada Estado a ser livre de escolher e alterar as suas disposições de segurança, incluindo tratados de aliança à medida que evoluem". Os da NATO não evoluíram, mas, além disso, "cada Estado também tem o direito à neutralidade. Cada Estado participante respeitará os direitos de todos os outros a este respeito, e não reforçará a sua segurança à custa da segurança dos outros Estados".
O que está a dizer é que a ambição da Ucrânia de aderir à aliança ou a outros países, a ambição das democracias pós-soviéticas é uma ameaça à sua segurança nacional, à segurança da Rússia?
Quaisquer ambições, quaisquer planos para aderir a qualquer aliança de segurança devem levar também em conta os interesses da segurança nacional de outros países, neste caso, países que estão ao lado. A política de portas abertas da NATO é formulada como se a NATO existisse num vácuo, como se não houvesse mais ninguém em torno da NATO.
Então todas as opções estão em cima da mesa para si, incluindo uma escalada militar?
Não uma guerra nuclear (risos).
É bom saber. Mas qualquer escalada militar, uma invasão da Ucrânia…
Acreditamos na diplomacia e só posso esperar que os nossos interlocutores aqui na Europa do outro lado do Atlântico se cinjam ao mesmo princípio de que qualquer diferença pode e deve ser resolvida por meios diplomáticos.
Viabilidade do Nord Stream 2
Uma escalada militar poria em risco a viabilidade, por exemplo, o gasoduto Nord Stream 2. Considera isto um risco real e pode a Rússia dar-se ao luxo de deixar que isto aconteça?
Não se trata apenas do Nord Stream 2, mas da situação geral com a segurança europeia. O sistema de segurança europeu, como todos nós antevimos em 1975 em Helsínquia.
Mas não me falou do gasoduto Nord Stream 2. Está preocupado que haja um revés neste projeto?
Penso que os consumidores europeus deveriam ser os primeiros a ficar preocupados porque terão de viver sem gás russo relativamente barato e abundante e terão de encontrar outros meios para aquecer a casa. O inverno ainda não acabou e, claro, precisam também de eletricidade para as suas casas.
Mas haverá também um enorme custo de milhares de milhões de euros para a Rússia...
A Rússia vai encontrar onde vender o seu gás.