Passam duas décadas da criação da barragem que ainda gera polémica
Foi há 20 anos que a Aldeia da Luz começou a ser engolida pelas águas para dar lugar ao maior lago artificial da Europa.
As comportas da barragem do Alqueva, no Alentejo, encerraram-se precisamente a 8 de fevereiro de 2002. Os habitantes foram levados para uma nova aldeia construída de raiz, a escassos quilómetros.
Mas virar a página não é expressão que pegue por estas bandas. Afinal, os sonhos falam mais alto. “A gente ainda hoje quando sonha, é sempre na aldeia velha, corre a gente aquelas ruas todas e é sempre os sítios que a gente conhecia tão bem. Nos sonhos, continuo ali. Não se sonha com esta aldeia", diz Ermelinda Godinho, de 78 anos.
E prossegue: "O que custou mais... Foi tudo, a trasladação dos mortos, dos nossos entes queridos... foi a mais chocante, foi essa".
Já foram investidos mais de 2 mil milhões de euros no Alqueva, que fornece água a cerca de 200 mil habitantes e a transporta até 130 mil hectares de terrenos.
Foi a salvação, dizem agricultores como António Vieira Lima, da vila de Cuba. “No passado, tínhamos sempre a insegurança de se chove, se não chove, se temos água, se não temos água, e hoje em dia a certeza da água abre-nos a porta a podermos fazer investimento quase com a certeza de que iremos ter o retorno desse investimento”, considera.
Em termos ambientais, não há consenso. Critica-se a canalização da água para as grandes multinacionais em detrimento dos pequenos agricultores. E lançam-se alertas sobre a degradação da qualidade da água a longo prazo.