Junta militar no poder no Mali desvaloriza retirada das tropas europeias antiterrorismo

Soldados da força francesa "Barkhane" deixam a base de Gao, no Mali
Soldados da força francesa "Barkhane" deixam a base de Gao, no Mali Direitos de autor AP Photo/Jerome Delay, Arquivo
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De  Francisco Marques
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França, que liderava a presença europeia, alega não haver condições para manter o apoio e deslocaliza parte do contingente que inclui Portugal para o Niger

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O braço de ferro entre França e o Mali vai custar ao país africano a retirada da força militar europeia que o apoiava há quase uma década na luta contra o terrorismo. Mas a junta no poder desde agosto de 2020 desvaloriza a retirada, descrevendo a missão europeia antiterrorismo como falhada.

A retirada europeia do Mali das missões "Barkhane", com soldados franceses, e "Takuba", envolvendo outros países europeus, incluindo Portugal, foi anunciada esta quinta-feira pelo Presidente Emmanuel Macron e deverá estar concluída no espaço de seis meses apesar dos quase seis mil contentores de material e dos cerca de três mil soldados ali estacionados.

Em risco fica também a presença no Mali da missão de capacetes azuis das Nações Unidas, a MINUSMA, e a missão de formação da União Europeia, que terão de ser adaptadas às novas circunstâncias.

A decisão acontece depois de a junta no poder ter rejeitado a realização de eleições este mês e de ter manifestado o desejo de se manter no poder até 2025.

"Devido às múltiplas obstruções das autoridades de transição malianas, o Canadá e os Estados europeus que operam ao lado da operação Barkhane e no seio da operação Takuba consideram que as condições políticas, operacionais e jurídicas não estão reunidas para continuar o atual compromisso militar", lê-se num comunicado conjunto enviado pelo Palácio do Eliseu às redações.

A junta militar desvaloriza a retirada, garante que as missões europeias não estavam a ter êxito e diz que o tempo o irá demonstrar.

"É verdade. Isto pode ser preocupante, mas o Mali não está só e não vai ficar isolado. A França pode partir, os países europeus podem partir. Eu não vou fazer previsões. Deem tempo ao tempo e vamos ver o que vai acontecer", afirmou Souleymane Dembéle, o diretor de Informação e relações Públicas (DIRPA) das forças armadas do Mali.

O apoio armado russo do grupo privado Wagner é outros dos pontos da discórdia. Macron disse que a junta militar vai ter de justificar ao povo a contratação de mercenários que o presidente francês acusa de estarem no Mali para defender interesses privados e não os malianos.

A França não pretende contudo abandonar a luta contra o terrorismo na região do Sahel.

Macron e o chefe da diplomacia da União Europeia revelaram ter acordado com o Niger a relocalização neste país de parte das forças antiterrorismo europeias que estavam no Mali e desta forma continuar a apoiar os países da região da insurgência jiadista que tem vindo a manifestar-se no golfo da Guiné.

"A nossa determinação em lutar contra o terrorismo mantém-se intacta", afirmou Josep Borrell, o porta-voz da UE, pelas fedes sociais.

O Mali continua a ser assolado por diversos ataques de grupos rebeldes e, só esta semana, terão sido mortos pelo menos 40 civis que tentavam fugir dos grupos terroristas em pleno menos três ataques ocorridos no norte do país, na região de Gao, apurou a agência espanhola Efe.

Os ataques estão a ser enquadrados na insurgência de vários grupos jiadistas, afetos à Al-Qaida e ao autoproclamado Estado Islâmico, que tentam aproveitar a anunciada retirada militar europeia.

Outras fontes • AFP, AP

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