"Estamos a enviar uma mensagem à Rússia", diz secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg

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De  Méabh Mc MahonEuronews
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O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, revelou à Euronews o que está a aliança atlântica a fazer para ajudar a Ucrânia contra a Rússia e até onde pretende ir nesta guerra.

A 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Oito anos antes, tinha já anexado ilegalmente a Crimeia. Em nenhuma das situações, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) interveio diretamente, alegando que, apesar das demonstrações de interesse na adesão, a Ucrânia não fazia parte da aliança.

Um mês após a invasão, os aliados reuniram-se em Bruxelas, Bélgica, esta quinta-feira, para avaliar a resposta ao conflito, com a ameaça de eventuais ataques com armas químicas, biológicas, ou nucleares, por parte da Rússia, a pairar no ar. Após o encontro, a Euronews falou com Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, para saber o que está a ser feito pela Ucrânia e até que ponto a aliança está disposta a ir nesta guerra.

Qualquer ataque deliberado a infraestruturas civis e a civis é um crime de guerra. Portanto, penso que é extremamente importante que o Tribunal Penal Internacional tenha aberto uma investigação e os responsáveis sejam responsabilizados
Jens Stoltenberg
Secretário-geral da NATO

Méabh McMahon: Esta semana assistimos a uma enorme manifestação de unidade na NATO. Isso poderá ajudar a parar a guerra na Ucrânia?

Jens Stoltenberg: Sim, vai ajudar, e na verdade já está a ajudar na prestação de apoio à Ucrânia. Penso que o Presidente Putin subestimou realmente a unidade e a força da NATO e da União Europeia e de todos nós que acreditamos na democracia e no Estado de direito e na ordem internacional baseada em regras, porque estamos juntos na imposição de sanções sem precedentes à Rússia, mas também na prestação de apoio à Ucrânia, o que os ajuda a resistir à invasão das forças russas.

M.M.: O Presidente Putin é um criminoso de guerra?

J.S.: O que temos visto é que civis foram atacados, infraestruturas civis foram atacadas, duas escolas, hospitais. E qualquer ataque deliberado a infraestruturas civis e a civis é um crime de guerra. Portanto, penso que é extremamente importante que o Tribunal Penal Internacional tenha aberto uma investigação e os responsáveis sejam responsabilizados. Isto apenas destaca e sublinha a importância de que esta guerra tem de acabar e Putin pode acabar com esta guerra amanhã, pondo fim à guerra, retirando as suas tropas e empenhando-se de boa fé nos esforços diplomáticos.

Estamos a enviar uma mensagem à Rússia de que qualquer utilização de armas químicas, ou biológicas, ou nucleares vai alterar fundamentalmente a natureza do conflito. Será uma violação flagrante do direito internacional e terá consequências de grande alcance
Jens Stoltenberg
Secretário-geral da NATO

M.M.: Esta semana houve várias demonstrações de apoio. Naturalmente, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, juntou-se virtualmente à reunião e disse que queria 1% das armas da NATO. Isso é exequível?

J.S.: O que é possível fazer é o que a NATO está a fazer ao máximo para lhes prestar ajuda e apoio financeiro, o apoio temporal, mas também o apoio militar à Ucrânia. E estamos a fornecer à Ucrânia armas anti-tanque avançadas, sistemas de defesa aérea. E também temos de nos lembrar que os aliados da NATO treinaram o exército ucraniano durante muitos anos, dezenas de milhares de soldados que estão agora na linha da frente. Portanto, o exército ucraniano está muito mais bem equipado, muito mais treinado e muito mais forte agora do que em 2014, quando a Rússia invadiu pela primeira vez. É sobretudo a coragem das Forças de Defesa do Exército Ucraniano que estão a fazer a diferença no campo de batalha. Mas o apoio dos seus dois aliados é um factor crucial para lhes permitir resistir às forças invasoras russas. E vemos o efeito das armas e do apoio que temos prestado.

M.M.: Esta semana, a NATO anunciou a ativação da defesa química, biológica, radiológica e nuclear. Isto é relevante? Até que ponto devemos estar preocupados?

J.S.: Estamos preocupados, mas ao mesmo tempo, estamos a enviar uma mensagem à Rússia de que qualquer utilização de armas químicas, ou biológicas, ou nucleares vai alterar fundamentalmente a natureza do conflito. Será uma violação flagrante do direito internacional e terá consequências de grande alcance. Portanto, isto é algo que é muito grave. E esta é também mais uma razão pela qual esta guerra tem de acabar, porque esta é uma guerra perigosa. É a crise de segurança mais grave em que nos encontramos desde há décadas e, por isso, estamos a impor as sanções à Rússia. Estamos a dar apoio à Ucrânia, mas estamos também a aumentar a prontidão e a presença das tropas da NATO na parte oriental do flanco.

M.M.: E essa defesa conjunta tem capacidade para proteger a Ucrânia e, claro, os aliados da NATO de um possível ataque químico?

J.S.: Os nossos comandantes militares têm algumas medidas para proteger as forças da NATO e nós temos mais forças da NATO na parte oriental da aliança. Temos também alguma capacidade para ajudar as autoridades civis a lidar com armas químicas, ou biológicas, e com os efeitos das mesmas. E depois estamos a prestar algum apoio à Ucrânia no que diz respeito a equipamento de proteção e outros meios para se protegerem contra as armas químicas ou biológicas.

Um ataque a um aliado desencadearia uma resposta de toda a aliança. Ao fazer isso, não estamos a provocar conflitos, mas a prevenir conflitos
Jens Stoltenberg
Secretário-geral da NATO

M.M.: E tudo isto, claro, vai custar dinheiro, e já vimos os membros da NATO a levar as mãos ao bolso. Estão a pôr dinheiro em cima da mesa, como os belgas disseram, vão alocar mil milhões de euros a despesas de defesa. Quanto é que tudo isto vai custar aos contribuintes, tendo em conta que esta guerra pode durar algum tempo?

J.S.: A nossa segurança não vem de graça e vimos ao longo do último ano, especialmente desde 2014, as tensões a aumentar. Temos visto a Rússia a usar a força contra a Ucrânia, primeiro anexando ilegalmente a Crimeia, depois desestabilizando a parte oriental da Ucrânia, Donbas, e agora a invasão total da Ucrânia. Além de que a Rússia nos ameaçou. Também ameaçou a NATO, apelando à NATO para que removesse todas as infraestruturas e todas as forças da parte oriental da aliança. Daí termos de investir mais na nossa segurança. A boa notícia é que os aliados da NATO estão a fazer exatamente isso.

Tomámos a decisão, em abril de 2014, de aumentar as despesas com a defesa. Desde então, todos os aliados da NATO o têm feito. Acrescentámos um total de 270 mil milhões adicionais e isso tornou-nos mais fortes e vemos que nesta área temos mais capacidade. E essa é também uma razão pela qual temos sido capazes de destacar mais tropas significativas na parte oriental da aliança e ter mais aviões no ar para garantir que não há espaço para mal-entendidos em Moscovo no que diz respeito à prontidão da NATO para proteger todos os aliados, com base no princípio central de um por todos, todos por um. Um ataque a um aliado desencadearia uma resposta de toda a aliança. Ao fazer isso, não estamos a provocar conflitos, mas a prevenir conflitos.

M.M.: Para finalizar, uma breve pergunta. O Presidente Biden esteve em Bruxelas esta semana e propôs-lhe que permanecesse no seu cargo por mais um ano, apesar de ter sido nomeado para governador do Banco Central da Noruega. Como é que isso o faz sentir? Está pronto para mais um ano disto?

J.S.: Sinto-me muito privilegiado por me pedirem para continuar como Secretário-Geral da NATO, especialmente agora, no meio de uma crise de segurança extremamente grave, para garantir que continuamos unidos. E a unidade que foi demonstrada na missão, na reunião desta semana para a cimeira da NATO, é algo que me inspira a continuar a concentrar-me totalmente na minha tarefa como secretário-geral da NATO.

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