Emmanuel Macron vive uma eleição presidencial marcada pelo desamor dos franceses ao seu presidente, uma situação muito diferente da de há cinco anos
Para os franceses, a escolha dos candidatos à segunda volta da eleição presidencial é, numa expressão muito francesa, a escolha entre "a peste e a cólera".
Ou seja, em bom português, "venha o diabo e escolha".
Isto diz muito do desamor do povo por Emmanuel Macron. Mas, porquê?
Muito do antimacronismo deve-se à personalidade do presidente francês, exacerbada pelo estatuto do súperpresidente da V República: frio, insensível, e mesmo arrogante.
Emmanuel Macron adora a ribalta, que incarna com uma gravidade solene.
Para além de nunca ter criado laços territoriais no hexágono, a sua linguagem elaborada e o estilo algo pedante, colocam-no a anos-luz de um Jacques Chirac, o último presidente que os franceses reelegeram.
De resto, suceder a Chirac não tem sido fácil. Até François Hollande, que quis ser um presidente "normal", se tornou muito impopular no final do mandato.
Parte da explicação pode, portanto, residir nesta função presidencial muito francesa, que faz dos presidentes uma espécie de reis da república, omnipresentes e omnipotentes.
Um trono em que se senta confortavelmente Emmanuel Macron, com muita dificuldade em descer ao povo.
A gestão das crises dos Coletes Amarelos e da Covid-19 foram bem o exemplo disso.
Com o sentimento de uma parte da população, dir-se-à que, em cinco anos de mandato, os franceses não viram nem a renovação, nem a prometida "República em Marcha".