A urgência sublinhada em Lisboa na abertura da Conferência dos Oceanos da ONU só pode ser ultrapassada se a humanidade conciliar desenvolvimento com proteção da biodiversidade, como explicou a ministra do Mar de Moçambique. O presidente de Angola falou em nome da CPLP e clamou por novos paradigmas
A urgência decretada em Lisboa para a proteção dos oceanos só pode ser ultrapassada se a humanidade conseguir resolver diferentes contradições. A extração em alto-mar de recursos energéticos fósseis, por exemplo, colide com a preservação dos oceanos.
Entre os países exportadores de petróleo há decisores políticos conscientes da necessidade de novas soluções. É o caso de Angola, o segundo maior produtor de crude de África e que tem grande parte da extração localizada em alto-mar.
Para o presidente João Lourenço, orador da sessão plenária inaugural nesta segunda Conferência dos Oceanos da ONU, urge “encontrar respostas para a crescente necessidade de implementar novos paradigmas de exploração sustentável dos imensos recursos que os Oceanos colocam à disposição".
Os recursos fósseis são fontes de riqueza que nenhum país dispensa, explica Lídia Cardoso. Em declarações à Euronews, à margem da Conferência dos Oceanos, a ministra do Mar de Moçambique destacou a importância destes recursos sobretudo quando permitem aos países atingir outros objetivos de desenvolvimento. O país austral conta-se entre os mais pobres do mundo, mas conta com uma das maiores reservas de gás natural da África subsahariana.
"Embora saibamos que a questão da exploração de hidrocarbonetos, tal como outras explorações que se fazem no mar, tem alguns malefícios se nós não controlarmos as situações, mas temos outros benefícios relacionados com os nossos índices de desenvolvimento. E, naturalmente, para um país como o nosso, temos que recorrer a estes recursos para podermos ultrapassar certas necessidades prementes na sociedade", afirmou a ministra moçambicana.
O equilíbrio é delicado e precisa de uma mudança de paradigma energético, defende o coordenador da Iniciativa Global da Biodiversidade no Oceano (Global Ocean Biodiversity Initiative/GOBI).
"A indústria do petróleo e do gás foi totalmente regulamentada e a biodiversidade pode coexistir com operações sustentáveis se estas forem devidamente licenciadas com avaliação de impacto ambiental", afirmou David Johnson à Euronews.
O coordenador da GOBI compreende "que nos países em desenvolvimento as receitas são extremamente importantes e que neste momento há uma crise de necessidade de combustíveis fósseis. No entanto, o maior problema é o clima e o efeito que as alterações estão a ter sobre o oceano", conclui.
Os próximos dias podem ser determinantes para o equilíbrio das políticas de gestão dos recursos marinhos. Lisboa acolhe até 1 de julho a Conferência dos Oceanos da ONU.