Chipre defende um papel mais ativo da União Europeia para resolver impasse cipriota

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"Temos um período de tempo, até às eleições na Turquia, que é preciso aproveitar para que o diálogo possa ser retomado”, disse à euronews o novo presidente da República de Chipre.

O Presidente da República de Chipre, Nikos Christodoulides, eleito a 28 de fevereiro de 2023, defende um papel mais ativo da União Europeia na resolução do impasse cipriota.

Euronews: “É a primeira vez que vem a Bruxelas como Presidente da República de Chipre e trouxe uma proposta concreta para que a União Europeia possa ter um papel mais ativo na resolução do problema de Chipre. Tendo em conta a posição da outra parte, o facto de o diálogo ter estado parado nos últimos seis anos, e o facto de a Turquia estar mais longe do que nunca da União Europeia, quais são as suas expetativas? Será que a União Europeia pode conseguir algo que Chipre não tenha tentado fazer ao longo de todos estes anos?”

Nikos Christodoulides, Presidente da República de Chipre: “Ao lançarmos um esforço para resolver o problema de Chipre, é preciso ter em conta os factos internacionais. Não somos nós que influenciamos a evolução internacional, somos afetados por essa evolução. Qual é a situação atual? Temos efetivamente uma invasão russa ilegal da Ucrânia e atualmente a União Europeia paga o preço das suas decisões, que são perfeitamente corretas, e nós concordamos e participamos no processo de tomada de decisões. Por outro lado, a União Europeia desempenha um papel de liderança, tendo em conta o impacto da invasão russa sobre outros atores do sistema internacional. Esta é a primeira dimensão: um papel de liderança da União Europeia numa crise, na vizinhança da Europa. A segunda dimensão é a eleição de um novo Presidente da República de Chipre. A terceira dimensão diz respeito às eleições na Turquia. Temos um período de tempo, até às eleições na Turquia, que é preciso aproveitar, para que o diálogo possa ser retomado”.

Não espero mudanças radicais na política externa turca.
Nikos Christodoulides, Presidente da República de Chipre

Euronews: “Em relação à Turquia e às eleições em Maio, quais são as suas expetativas? No caso de Erdogan ser reeleito, ou no caso de haver uma mudança com uma vitória de Kemal Kılıçdaroğlu”.

Nikos Christodoulides: “Não espero mudanças radicais na política externa turca. Pelo menos, é o que se pode deduzir da história da política externa turca ao longo do tempo, mas será uma nova realidade. A eleição de um novo presidente, seja ele, Erdogan, ou o líder da atual oposição. E o importante é utilizar, repito, este período. Foi o que acordámos com os três presidentes das instituições da União Europeia, para criar as condições, imediatamente após as eleições na Turquia, para retomar as conversações com base no quadro acordado. Porque queremos, acima de tudo, o fim da ocupação e a reunificação da nossa pátria”.

Euronews: “Para tentar compreender a iniciativa, a sua proposta é que as instituições europeias assumam a liderança, e coloquem a questão cipriota no contexto das relações euro-turcas?

Nikos Christodoulides: “Há dois aspetos na nossa proposta. O primeiro é a necessidade de quebrar o impasse. Ainda não estamos em conversações, mas antes de mais é preciso quebrar o impasse para que as conversações voltem ao bom caminho. Precisamos acima de tudo do envolvimento da União Europeia, sempre no contexto das Nações Unidas. Não estamos a tentar retirar a questão de Chipre do âmbito das Nações Unidas. Pelo contrário, as Nações Unidas e o quadro das resoluções da ONU são as nossas salvaguardas em relação ao nosso objetivo. Mas, para quebrar o impasse, acreditamos que a União Europeia, através da nomeação de uma personalidade política, através das ações das próprias instituições, pode apoiar-nos para alcançar esse objetivo. Este é o primeiro aspeto da nossa proposta, aquilo em que nos concentramos e que pretendemos alcançar imediatamente após as eleições na Turquia. Com o reinício das conversações, surge a segunda parte da proposta. Um aspeto muito específico da nossa proposta é o apoio tecnocrático às conversações, logo que forem retomadas”.

Queremos, acima de tudo, o fim da ocupação e a reunificação da nossa pátria
Nikos Christodoulides, Presidente da República de Chipre

Euronews: “Passemos a outro tema que domina a agenda política e que deverá dominá-la durante muito tempo, a invasão russa da Ucrânia. A República de Chipre tem tido muito boas relações e laços fortes com a Rússia ao longo do tempo. Muitos aspetos desta questão foram também severamente criticados pela Europa. Hoje em dia em que pé estão as relações entre a República de Chipre e a Rússia?”

Nikos Christodoulides, Presidente da República de Chipre : “Sim, existiam laços historicamente fortes com a Federação Russa, especialmente a nível dos povos dos dois países. Havia também uma dimensão importante relativamente à questão de Chipre e ao facto de a Federação Russa ser um membro permanente do Conselho de Segurança, mas a realidade de hoje é claramente diferente. A República de Chipre não vai rejeitar de forma alguma as decisões unânimes da União Europeia, nas quais, repito, também participamos”.

Euronews: “Como Presidente e como novo Presidente da República de Chipre apoia a política europeia de sanções contra a Rússia e considera que essa política de sanções funciona?

Nikos Christodoulides: “As sanções são um instrumento que é usado de forma correta pela União Europeia. O problema poderá residir ao nível da implementação correta das sanções não só pelos Estados-Membros, mas também por todos aqueles que estão ligados de uma forma ou de outra à União Europeia”.

Euronews: “Apoia as sanções?”

Nikos Christodoulides: “Claro que sim”.

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Nikos Christodoulides, Presidente da República de Chipreeuronews

O gás do Mediterrâneo Oriental

Euronews: “Outra questão importante para a União Europeia é a independência energética face à Rússia. Que papel Chipre pode desempenhar nesta questão? Observa um interesse crescente da União Europeia em relação ao Mediterrâneo Oriental?”

Nikos Christodoulides: “Há interesse. Há um interesse que não foi expresso agora no momento em que assumimos a governação do país. Já tinha sido manifestado antes. Quero dizer as coisas como elas são. Estamos a falar do célebre corredor de gás do Mediterrâneo Oriental, através de um papel de liderança da União Europeia e da cooperação dos Estados da região. O Mediterrâneo Oriental pode ser desenvolvido como um corredor de energia alternativo para a União Europeia. De acordo com as estimativas de peritos que conhecem este assunto melhor do que eu, o Mediterrâneo Oriental poderá cobrir até 15 a 16% das necessidades energéticas da União Europeia durante os próximos 25 anos”.

Euronews: “Em que ponto estão os vossos programas energéticos e as perfurações de gás na Zona Económica Exclusiva cipriota?”

Nikos Christodoulides: “Encontrámos gás e há atividades em curso realizadas por empresas localizadas na Zona Económica Exclusiva da República de Chipre. Ma esta questão coloca um problema e quero ser totalmente honesto”.

Euronews: “Há um calendário? Quando é que haverá resultados tangíveis?

Nikos Christodoulides: “A questão foi discutida no conselho de ministros, em particular com o Ministro da Energia, e falámos na necessidade, após consulta com as empresas, de dizer, publicamente, a verdade ao povo. Estas explorações de gás serão usadas nesse período de tempo específico. Até lá, passaremos à fase de exploração, porque o que me preocupa, é que dentro de 5 a 10 anos, no contexto da transição ecológica, estas reservas poderão não ser utilizáveis”.

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