Como é que a guerra na Ucrânia mudou a Europa?

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De  Isabel Marques da Silva
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Colocámos a questão em mais uma edição do programa "Global Conversation" a Margrethe Vestager, comissária europeia com a pasta da Concorrência, Marija Pejčinović Burić, secretária-geral do Conselho da Europa, e a Sviatlana Tsikhanouskaya, líder do Movimento Democrático da Bielorrússia

A guerra na Ucrânia mudou drasticamente a Europa. A questão agora é saber como preparar o futuro e garantir um papel geopolítico de liderança.

Perguntámos como é que a guerra na Ucrânia está a mudar o velho continente a Margrethe Vestager, comissária europeia com a pasta da Concorrência, Marija Pejčinović Burić, secretária-geral do Conselho da Europa, e a Sviatlana Tsikhanouskaya, líder do Movimento Democrático da Bielorrússia.

As três líderes políticas juntaram-se para um debate sobre o futuro da Europa, na terça-feira, organizado pelo think tank Centre for European Policy Studies, com sede em Bruxelas, que celebrou o seu 40º aniversário.

A Euronews esteve à conversa com as três, em mais uma edição do programa "Global Conversation."

Isabel Marques da Silva, Euronews - Como é que a guerra na Ucrânia mudou a Europa?

Margrethe Vestager, comissária europeia com a pasta da Concorrência - penso que desde o primeiro dia da invasão, a Europa mudou mais ou menos a cada hora. Há discussões robustas entre os Estados-membros e as partes envolvidas, mas conseguimos encontrar soluções muito mais rapidamente e todos têm a vontade de embarcar numa solução comum. É como se estivéssemos a mudar o ADN europeu.

Marija Pejčinović Burić, secretária-geral do Conselho da Europa - condenámos a agressão imediatamente, na manhã do dia 24 de fevereiro, e no espaço de três semanas expulsámos a Federação Russa. Então, para o Conselho da Europa, mudou completamente o cenário e a forma como trabalhamos. Colocámos a Ucrânia e o apoio à Ucrânia à cabeça e no centro do que fazemos. Mas esta guerra de agressão também mostrou e exacerbou outros problemas que tínhamos na Europa, antes da guerra e antes da pandemia. Com a guerra e com a pandemia, agravou-se o retrocesso da democracia na Europa.

Sviatlana Tsikhanouskaya, líder do Movimento Democrático da Bielorrússia - a Europa pode mostrar os dentes. Agora vejo uma consistência na política europeia. Vejo bravura e determinação. Espero, realmente, que a Europa continue assim porque penso que teremos muitos desafios pela frente para enfrentar juntos. A posição de princípio da Europa é muito importante.

Isabel Marques da Silva, Euronews - acredita que haverá uma segunda Guerra Fria ou o Ocidente conseguirá reconstruir as relações com a Rússia?

Sviatlana Tsikhanouskaya, líder do Movimento Democrático da Bielorrússia - não penso que os especialistas consigam prever como será o futuro da região ou qual será a relação com a Rússiade Vladimir Putin. Os bielorrussos não precisam lidar com ele, de todo. Por isso, o que sei com certeza é que a guerra não terminará até que a Bielorrússia esteja livre. Não esqueçamos uma coisa: enquanto o presidente da Bielorrússia, Aleksander Lukashenko, estiver no poder, com a ajuda de Putine violando o povo bielorrusso, não haverá segurança nem estabilidade na região.

Isabel Marques da Silva, Euronews - a guerra já fez um ano. Não sabemos quanto tempo mais vai durar. Como é que a Europa se deve preparar para a vida após a guerra, inclusive para manter um papel de liderança na comunidade internacional?

Marija Pejčinović Burić, secretária-geral do Conselho da Europa - penso que a Europa é campeã do multilateralismo, em todo o mundo. Foi uma das primeiras regiões, após duas horríveis guerras, a começar a pensar em novas organizações multilaterais que ajudariam a sustentar a paz e a assegurar prosperidade e avanço económico para todos os nossos Estados-membros. Por isso, mais de 75 anos após o Congresso Europeu de 1948, certamente precisamos repensar o que fazemos bem e o que precisa de ser mudado. Mas, provavelmente, a forma como trabalhamos, as prioridades, precisam ser repensadas.

Isabel Marques da Silva, Euronews - acredita que a Europa precisa de uma ferramenta ou de um mecanismo financeiro permanente para lidar com essas crises, uma após a outra?

Margrethe Vestager, comissária europeia com a pasta da Concorrência - se quisermos dar resposta aos eleitores, aos cidadãos nos Estados-membros, temos de trabalhar para soluções europeias. Penso que parte disso passa por nos tornarmos também cada vez melhores em encontrar soluções de financiamento europeias. Penso que agora, quando quisermos permitir mais ajuda dos Estados-membros às empresas, precisamos repensar como podemos também ter um instrumento europeu para permitir que as empresas invistam e cresçam na Europa. Não temos de fazer as coisas sempre da mesma maneira. Podemos ser muito mais rápidos, penso eu, naquilo que fazemos e muito mais diretos, também para um instrumento de financiamento europeu.

Isabel Marques da Silva, Euronews - vimos ser canalizada muita ajuda para os refugiados ucranianos. Os Estados-membros abrem os braços para essas pessoas, mas vemos, de certa forma, uma tendência para a criação de uma “fortaleza” na Europa em relação às pessoas vindas de outras regiões do mundo. Qual é a solução para isso?

Marija Pejčinović Burić, secretária-geral do Conselho da Europa - do lado do Conselho da Europa, sentimos, desde logo, que era preciso dar conselhos para que as pessoas que estão a fugir da guerra não caiam nas armadilhas do tráfico de seres humanos, porque na situação de vulnerabilidade em que se encontram é muito fácil ser alvo de traficantes. [Sentimos que era preciso] ajudar aqueles que podem enfrentar violência sexual ou outro tipo de violência, principalmente crianças ou mulheres. Por isso, é uma grande sorte que, mesmo durante esta guerra, a terrível guerra de agressão à Ucrânia, as instituições continuem a funcionar. O Parlamento da Ucrânia ratificou a Convenção de Istambul, que é o padrão-ouro para proteger as mulheres contra a violência.

Isabel Marques da Silva, Euronews - os cidadãos europeus estão mais próximos uns dos outros, com mais solidariedade entre o este e o leste?

Sviatlana Tsikhanouskaya, líder do Movimento Democrático da Bielorrússia - ador, geralmente, une. Percebo que as pessoas que se encontram nos países democráticos - que dão a democracia por certa - sentiram a dor bielorrussa, a dor ucraniana e com certeza uniram-se em solidariedade aos nossos países. E vemos como, desde 2020, as pessoas ajudaram os nossos presos políticos, ajudaram refugiados que tiveram que fugir da Bielorrússia por causa da repressão. E agora as pessoas estão a dar as suas casas a refugiados ucranianos, estão a arrecadar fundos para armas. Quem poderia imaginar que os europeus arrecadariam fundos para comprar veículos de guerra e equipamentos militares? Estão a fazer isso agora porque entendem que são defendidos pelas nossas nações. E há uma obrigação moral para cada pessoa, agora, de contribuir para nossa vitória comum.

Isabel Marques da Silva, Euronews - antevê um agravamento do nacionalismo e do protecionismo na Europa e no mundo, nomeadamente na China e nos EUA?

Margrethe Vestager, comissária europeia com a pasta da Concorrência - penso que seremos muito mais precisos sobre o que representa um risco para nós. Penso que seremos muito mais sucintos, muito mais precisos em dizer “isso não é bom” ou a questionar se o comércio está realmente a beneficiar-nos ou aos nossos parceiros comerciais. Precisamos dar esse passo porque, caso contrário, todo o comércio fica contaminado e ficamos assustados e com medo de que isso seja outro ponto de bloqueio futuro. Por isso, precisamos de um grau de precisão completamente diferente sobre onde está a nossa segurança económica, para que possamos agir sobre ela.

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