A Igreja Católica pediu publicamente perdão, depois do relatório da comissão independente que dá conta de mais de 5 mil abusos desde 1950. A Euronews foi ao encontro das vítimas.
A hierarquia da Igreja portuguesa reuniu-se em Fátima, a 20 de abril, para pedir perdão pelos crimes sexuais cometidos contra menores pelo clero católico. Um relatório publicado em fevereiro passado estima que cerca de cinco mil crianças tenham sido vítimas de abusos desde 1950. A repórter da Euronews Valérie Gauriat deslocou-se a Portugal para se encontrar com as pessoas envolvidas.
"Reconhecemos e apresentamos aos sobreviventes de abusos sexuais na nossa Igreja um profundo, sincero e humilde pedido de perdão": Estas foram as palavras de D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, no dia 20 de abril, em Fátima, um importante destino de peregrinação católica. A missa de perdão foi organizada após a publicação do relatório da comissão independente.
Quebrar o silêncio para evitar mais abusos
António, de 70 anos, foi um dos que testemunharam perante a comissão. Foi abusado sexualmente entre os 10 e os 12 anos e, ao contar a sua experiência, recorda que um padre lhe disse uma vez para se confessar antes da missa, logo depois de o ter abusado: "O pecador era eu. A hipocrisia na Igreja Católica é enorme. Tenho de falar disso em todo o lado, sem vergonha, com coragem. Cabe-nos a nós ter coragem e a eles ter vergonha".
Desde a publicação do relatório, vários membros do clero, acusados de abuso sexual de menores, foram colocados sob investigação e temporariamente afastados das suas funções. No entanto, alguns continuam a exercer as suas funções. Filipa, de 43 anos, também testemunhou perante a comissão. Foi violada por um padre quando tinha 17 anos. Decidiu denunciar o caso há três anos para evitar mais abusos. "O Vaticano disse que o caso estava encerrado porque já tinha prescrito e que eu era a única vítima conhecida desse padre. Eu não conto. É por isso que o padre ainda está ativo. Entrei em depressão e até tentei suicidar-me", conta.
Filipa fundou uma associação, Coração Silenciado, para ajudar aqueles que não conseguiram quebrar o silêncio.